Visão do Correio

Punição a Pazuello

O Exército, uma das instituições mais respeitadas do país, deve dar uma resposta contundente ao desrespeito do general Eduardo Pazuello ao Estatuto dos Militares. Ele transgrediu as regras ao subir em um palanque eleitoral, no último domingo, em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Desrespeitou, ainda, todas as medidas de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, ao se juntar a uma multidão e ao não usar máscaras. Logo ele que comandou o Ministério da Saúde.


Depois de um dia tenso, o Exército optou pela abertura de um processo administrativo contra Pazuello. O general intendente terá cerca de 10 dias para apresentar sua defesa. A cobrança dentro dos quartéis é por uma punição exemplar. Ninguém, em tão pouco tempo, conseguiu fazer tanto estrago na imagem da Força quanto o ex-ministro. Desde que ele resolveu assumir um cargo civil, explicitou a incapacidade de gestão, a subserviência e o apego a mentiras.


Sob o comando de Pazuello, o Brasil passou de 300 mil mortos pela covid-19, sem que medidas efetivas fossem adotadas para conter a disseminação do coronavírus. O general fez pouco caso em relação a propostas para a compra, pelo país, de milhões de doses de vacinas. E, quando decidiu fechar um contrato — no caso, com a CoronaVac, fabricada pelo Instituto Butantan —, foi obrigado a recuar ao ser desautorizado pelo chefe no famoso episódio do “um manda, o outro obedece”.


Para quem viu em detalhes a tragédia provocada pela pandemia, era de se esperar, no mínimo, atitudes de bom senso por parte do general Pazuello. O que se vê, contudo, é a síntese do descaso, que debocha de uma sociedade que já enterrou 450 mil vítimas da covid-19. Nos mínimos gestos, o ex-ministro evidencia todo o desprezo pela vida dos brasileiros. Foi assim quando entrou em um shopping de Manaus sem máscara, ou mesmo quando se juntou ao evento político de domingo.


Na CPI da Covid, não economizou nas inverdades. Ao longo de dois dias de depoimento, em vez de pedir desculpas ao país por tantos erros na condução das políticas de enfrentamento à crise sanitária — em Manaus, centenas de pessoas morreram por falta de oxigênio nos hospitais —, preferiu selar seu pacto com o negacionismo. Pior: comemorou o que ele considera uma vitória por não ter cedido aos senadores que o inqueriram. O ego inflou de vez.


Não há dúvidas de que Pazuello deve ter um amplo direito de defesa no processo aberto pelo Exército. Mas o que dirá ele? Que estava por acaso no Rio e se deparou com as manifestações de motoqueiros em favor do Bolsonaro? Que não usou máscaras porque a esqueceu em algum lugar e, como era domingo, não viu nenhum comércio aberto para comprar o equipamento de proteção, fundamental para inibir a propagação do vírus?


Ninguém acredita que há ingênuos no Exército para engolir tamanhas falácias. Portanto, que a punição ocorra com o devido rigor. Assim como um general afrontou o Estatuto dos Militares, outros podem seguir pelo mesmo caminho. Se a porteira do liberou geral for aberta, a hierarquia da Força estará ameaçada. Certamente, não é o que o Alto Comando deseja. E não é o que o Brasil merece. A forte mistura entre militares e governo já é uma preocupação constante. Mas se acredita que todos sabem os limites da lei.