Escrevi matéria publicada em 6 de abril aqui no Correio, antes do início das quartas de final da Champions League, alertando que uma modinha retrô iniciava como marola na Europa e poderia se transformar em tsunami na Copa América e na Eurocopa deste ano; e na Copa do Mundo do Qatar-2022. O maremoto chegou aos quatro cantos do planeta bola: o sistema tático 3-5-2 e variáveis como 3-4-3, 3-4-2-1... estão na crista da onda.
Finalista da Liga dos Campeões, o Chelsea, de Thomas Tuchel, surfa no 3-5-2. O esquema também faz parte do repertório de Pep Guardiola no Manchester City. Como no futebol brasileiro nada se cria, tudo se copia, a tendência de lá virou moda aqui. Candidatos ao título do Paulistão, São Paulo e Palmeiras usam o formato. O Corinthians adotou, até a demissão de Vágner Mancini. O Flamengo aderiu no primeiro tempo contra a LDU.
O 3-5-2 chegou de mansinho com Sepp Piontek. Era o sistema da Dinamarca — semifinalista da Euro-1984 e sensação da Copa-1986. A Dinamáquina! Quatro anos depois, 14 das 24 seleções do Mundial da Itália-1990 usavam linha de três na defesa. Inclusive o Brasil. A eliminação da Seleção de Sebastião Lazaroni reprime o 3-5-2 até hoje no país. A alternativa virou trauma. Há pelo menos dois vícios táticos inaceitáveis no Brasil: achar que três zagueiros ou três volantes é retranca. Incrível, mas virou verdade quase absoluta. A linha de três defensores levou Argentina (Carlos Bilardo), Alemanha (Franz Beckenbauer) e Brasil (Luiz Felipe Scolari) ao título das Copas de 1986, 1990 e 2002, respectivamente. As três seleções foram campeãs com o melhor ataque do Mundial com 14, 15 e 18 gols. Há implicância com o 3-5-2 e suas variáveis no Brasil. Torceram o nariz para Hernán Crespo no São Paulo. Consomem a paciência do Abel Ferreira no Palmeiras. Questionavam Vágner Mancini no Corinthians. Rogério Ceni testou o esquema no jogo errado e foi detonado.
A questão não é o 3-5-2, mas a execução do técnico e dos jogadores. Os três beques do bi da Argentina, em 1986, eram Cuciuffo, Brown e Ruggeri. No tri da Alemanha, em 1990, Buchwald, Augenthaler e Kohler. Felipão tinha Lúcio, Edmílson e Roque Júnior. O sistema com três zagueiros exige beques de outro patamar. Rogério Ceni conhece o sistema. Ganhou Libertadores e Mundial em 2005 no 3-5-2 sob a batuta de Paulo Autuori. Ergueu o tri no Brasileirão pelo São Paulo, em 2006, 2007 e 2008 com três torres. O técnico era Muricy Ramalho. Havia pés de obra qualificados. Quando não se tem, não se inventa. Simples assim.