Ninguém tem razão quando o assunto é política cultural do Estado
Não seria preciso que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ingressasse com Ação Civil Pública contra o governo federal, a quem acusa de promover uma política sistemática de desmonte da cultura nacional, para que os brasileiros tomassem ciência de que essa área vem sendo severamente sucateada dia após dia.
Primeiro, porque, por essa via, a questão perde muito de sua seriedade e urgência, descambando para o terreno da rinha político-partidária, levantando suspeitas de que a ACP faz parte de uma vingança pessoal, movida pelo presidente da entidade, Felipe Santa Cruz, ligado ao Partido dos Trabalhadores e acusado por advogados de transformar a Ordem em legenda de esquerda.
Hoje é sabido que qualquer ação que parta da atual presidência da OAB contra o governo federal perde muito de sua importância jurídica e institucional por causa justamente da partidarização política excessiva da entidade e, particularmente, pelos desentendimentos entre o atual presidente e o Planalto.
Nesses últimos tempos, nem mesmo um diálogo institucional existe entre o governo e a OAB. É o preço a ser pago pela sociedade e pela classe artística, pela falta de isenção política e ideológica da ordem versus a miopia política que tomou conta do Executivo. Não seria necessário citar a máxima segundo a qual é pela qualidade cultural dos eleitores que se conhece a cultura do eleito. Nesse ponto a maioria dos eleitores do atual presidente suspeitava, ao menos, que por suas declarações e pelo seu passado, avesso a questões da cultura e das artes, cedo ou tarde ele promoveria nesse setor uma espécie de caça às bruxas contra a classe artística do país, mormente àquela que vinha, incansavelmente, criticando seu governo desde o primeiro dia.
Por outro lado, tem sido essa mesma classe artística, tradicionalmente ligada aos movimentos de esquerda, que, em governos passados, lograram obter as maiores verbas destinadas aos projetos de cultura, principalmente a partir da gestão de Gilberto Gil à frente da pasta da Cultura, via Lei Rouanet. Houve, nesse caso, uma flagrante perseguição política a esses artistas por parte do governo, o que não é segredo para ninguém, dados os inúmeros pronunciamentos nesse sentido, feitos pelo próprio presidente recentemente.
A questão aqui é que essa medida anunciada pela OAB perde muito de seu caráter cívico, diminuindo a importância do problema a uma mera disputa política, o que também contribui para retirar o vigor da questão e sua necessidade para o cidadão.
Cultura é alimento do intelecto e do espírito. Nenhuma civilização sobre o planeta jamais logrou êxito e desenvolvimento prescindindo da produção cultural de seu povo e da contribuição de outras nações. É preciso ver ainda que, por trás dessa ACP, reúnem-se a maioria dos partidos de oposição ao governo, o que confere mais matizes ideológicos a uma questão tão séria e que diz respeito a todos.
Temos aqui mais um caso típico, nesse governo e nesses tempos estranhos, em que a nenhuma das partes deve ser dada a razão. Nem ao governo, nem à OAB, muito menos à oposição política.
A questão da produção cultural deveria, num país democrático e sério, ser afeita diretamente à classe artística, por meio de um ministério ou secretaria apto e isento politicamente para gerir essas demandas, que deveriam, ainda, contar com a solidariedade da sociedade e com a participação do empresariado por meio de isenções fiscais realmente eficazes e transparentes.
Subsídios governamentais, ainda mais quando o Executivo é ocupado por políticos de visão extremada e avessa à arte e à cultura, podem sofrer desses contratempos e dessas perseguições. O que pode haver nessa questão de maior concretude é que se abra agora uma discussão sobre as possibilidades dos caminhos a serem trilhados e a blindagem da produção cultural contra esses eventuais favoritismos de momento, para que nossas artes não sofram processos de descontinuidade por motivos alheios aos criadores e aos artistas em geral.
A frase que foi pronunciada
“Quem disse que a paz não tem preço?”
Bolsonaro lembrando que Lula nunca teve oposição
Tecnoaprendizagem
» A Comissão de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Turismo da Câmara Legislativa do Distrito Federal está discutindo as profissões do futuro. A deputada Júlia Lucy (Novo) acredita que a pandemia mostrou o descompasso entre a demanda do mercado e a oferta da educação. Colocar o DF no mapa da tecnologia nacional é o grande objetivo do embate.
Sonho possível
» Ainda nessa comissão, o especialista em jogos eletrônicos David Leonardo usou sua experiência para mostrar como é possível conjugar habilidades e conhecimento com o prazer de aprender. Outro ponto importante destacado é a importância da conexão entre as disciplinas, o que enriquece a experiência e estimula a capacidade intelectual dos alunos.
Não deve, não teme
» Engana-se a Organização Mundial da Saúde quando diz que o esperado relatório sobre a origem do covid aponta para a inocência do país asiático. Na verdade, o que é esperado pelos cidadãos do mundo é a abertura da pesquisa em questão para todo e qualquer país que queira participar.
História de Brasília
Mas nem a mesma faixa existe. Um motorista levou consigo como recordação. Pelo menos é o que a gente ouve dizer. À noite, pela televisão e pelo rádio, veio a grande revelação. O país, que vivia num clima de otimismo excitante deixou cair o queixo ante as declarações de pessimismo do presidente. (Publicada em 02.02.1962)