OPINIÃO

Artigo: Gonzaguinha, democracia e liberdade

“A gente quer é ter muita saúde/A gente quer viver a liberdade/A gente quer viver felicidade”. Nada mais necessário para os tempos de agora do que a mensagem explícita contida neste trecho da letra de É, música emblemática e relevante da obra de Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha, filho adotivo de Luiz Gonzaga. O artista, nascido no morro de São Carlos, no Rio de Janeiro — morreu em 1991, aos 45 anos — por razões diversas inscreveu seu nome na história da música popular brasileira como um dos nomes de maior representatividade.

Cantor, compositor, desde o início da carreira na década de 1970 — em plena ditadura militar — ele se fez notar, também, por seu posicionamento em relação a questões sociais. Naquela época, com Ivan Lins, Aldir Blanc, Paulo Emílio e Márcio Proença, criou o Movimento Artístico Universitário (MAU). Foi quando compôs Comportamento geral, canção cuja letra recheada de ironia traz este verso: “Você deve aprender a baixar a cabeça/E dizer sempre muito obrigado/São palavras que ainda te deixam dizer/Por ser homem disciplinado”.

Por essas e outras chegou a ser chamado de “cantor rancor”. Mas, na verdade, no legado de Gonzaguinha prevalecem canções de temática romântica, entre elas Começaria tudo outra vez, Espere por mim morena, Eu apenas queria que você soubesse, Lindo lago do amor e Sangrando. Mas as de maior sucesso são Explode coração e O que é que? Ambas, já há algum tempo, presentes no repertório dos shows de Maria Bethânia. Geralmente no bis, finalizando a apresentação, ela canta: “Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será/Mas isso não importa que eu repita/É bonita, é bonita é bonita”.

Mas, voltando ao Gonzaguinha, cidadão e militante das causas sociais, há um fato, de triste lembrança, presente no imaginário de muita gente. Ao participar de show ocorrido em 30 de abril de 1981, que antecipava a comemoração do Dia do Trabalhador, no Rio Centro (Rio de Janeiro), coube a ele chamar a atenção dos companheiros de ofício e do público presente sobre o atentado ocorrido minutos antes, perpetrado por agentes da repressão. Ao microfone, ele afirmou: “Essas bombas detonadas representam uma luta para destruir aquilo que nós queremos, a democracia e a liberdade”. Quarenta anos depois, esse é o desejo da maioria dos brasileiros.