Visto, lido e ouvido

Desde 1960

Guerra e paz

Foram para bem distante aqueles tempos em que oficiais de alta patente eram reconhecidos por serem indivíduos dotados de um sentimento avesso ao medo e às ameaças do inimigo. Contudo, a ausência prolongada de guerras e de conflitos sangrentos, em que a coragem e o destemor são o que restam como escudo contra os obuses e o avanço da morte, fez mal aos nossos militares. Nossos guerreiros são treinados virtualmente e em ritos enfadonhos e teóricos dentro dos quartéis, onde a burocracia cotidiana e monótona passou a ser a única batalha diária a ser vencida.

A paz prolongada, portanto, ao representar o que de pior pode suceder ao oficialato e às tropas, conferiu-lhes uma certa resignação, além de uma notável inanição para a ação. Com resultado dessa falta de ventos a enfurnar as velas, as belonaves permanecem estacionadas no porto, acumulando ferrugem. A inércia faz mal às tropas, tira-lhes o ímpeto guerreiro e as conduz ao vale da preguiça.

Na ausência dessa agitação bélica, enfraquece-se, também, o caráter, roubando-lhes o ânimo e a alma. É no movimento que se fazem as batalhas. Pior do que esse marasmo prologado, que arrasta nossas forças em armas para a estagnação e a decadência, é com ele que se perde a possibilidade de fazer do preparo contínuo um escudo contra os obuses e o sibilar das balas traçantes de fuzil a cortar o céu, rente à cabeça. A única batalha a ser travada é contra a pachorrento cotidiano de atividades burocráticas e torturantes, prolongadas por um relógio de ponto preguiçoso.

É nesse cenário paradisíaco e pachorrento que são travadas as batalhas diárias de nossos bravos soldados. Terminado o expediente, o armistício diário é mais uma vez assinado com o retorno das tropas aos seus lares. A guerra contra o inimigo de mentira é o que existe de maior intensidade dentro dos quartéis. A paz, tão ensejada pelos cidadãos comuns e que tanto bem-estar traz à nação, é mortal para as tropas e para os comandantes.

De certo modo, é até possível observar que a ausência de conflitos armados, ao roubar os hormônios dos combatentes, deixa para trás uma tropa de mofinos, descartada como objeto usado. Talvez tenham sidos esses fatores e mais alguns outros bizarros motivos que acabaram por produzir generais e outros comandantes de alta patente que, sem o menor pudor e pendor, vergam seus espinhaços aos desígnios inconsequentes e irracionais de políticos e outros aventureiros aboletados nos Três Poderes e que deles exigem atos humilhantes e pouco dignos.

Essa seria não uma, mas inúmeras carapuças que bem se acomodam sobre as cabeças de generais e outros áulicos estrelados, como é o caso do general Eduardo Pazuello, tristemente amedrontado e acuado perante a Comissão Parlamentar de Investigação para falar do que é obrigação ética e disciplinar de um militar: a verdade.

No tempo em que existiam generais de coragem cívica e bélica, uma convocação dessa natureza seria respondida com a presença imponente do depoente devidamente paramentado, acompanhado de duas maletas, uma, contendo documentos e recibos comprobatórios, outra, mais comprida, a acomodar um bastão de madeira ou algo pior para o caso de algum atrevidinho ousar denegri-lo em público.

Eram outros tempos, em que os homens se respeitavam ou no protocolo civilizado ou no porrete, não levando desaforo para casa, ainda mais de gente com ficha suja nas delegacias. A esses e outros altos oficiais que hoje desempenham papel nos gabinetes do Executivo, colocados em posição subalterna e, constantemente humilhados por grosserias e outras pilherias vinda de pessoas claramente desclassificadas e sem poder ético para tal, fica a certeza de que a ausência de guerra fez muito mal a todos da caserna.

 

A frases que foram pronunciadas:

“Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói.”

General Montgomery, em discurso

 


“Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele.”

Winston Churchill, em resposta ao general

 

Parque Nacional

» Se os candangos não fizerem nada, a Água Mineral, parque com piscinas de água natural e vários hectares de verde, deixará de ser propriedade da cidade. Os idosos que iam tomar sol todos os dias, fazer exercícios, nadar, estão dentro de casa, perdendo a imunidade. Da mesma forma que a comunidade se uniu para defender o Parque Olhos d’Água, precisa se unir para salvar a Água Mineral.


Tentativa

» Sobre o assunto, Chico Santana publicou um texto em que informa que o Ministério Público Federal arquiva representação que tentava impedir a privatização. Veja no Blog do Ari Cunha.

 

História de Brasília

E por último: os motoristas da TCB, como os trocadores, já deviam estar uniformizados. Andam sempre à vontade demais, camisa de peito aberto, sempre suja e mal-cuidada, com barba por fazer há vários dias.
(Publicada em 01.02.1962)