Como era esperado por todo o mercado financeiro, o Banco Central aumentou a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 3,50% anuais. O aperto monetário foi decidido no mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a produção industrial recuou 2,4% em março. A grande preocupação do BC neste momento é com a inflação, que, em 12 meses, está acima de 6%, bem distante do centro da meta perseguida pela instituição para este ano, de 3,75%. Não por acaso, o Comitê de Política Monetária (Copom) já contratou outra alta de 0,75 ponto em junho.
O Banco Central está convencido de que o tombo verificado pela indústria em março decorreu da decisão de muitos estados de imporem medidas restritivas para tentar conter a disseminação do novo coronavírus. Portanto, é um dado para ser avaliado pelo retrovisor. A partir de agora, com a economia voltando à normalidade, mesmo que em ritmo lento, a produção tende a se acelerar, o que exigirá um cuidado ainda maior com os preços. Uma atividade mais forte estimula os agentes a recomporem as margens de lucro. O remédio é juros mais altos para moderar o consumo.
O discurso do BC é de que a inflação é passageira, o que exigirá, ao final do ciclo de recomposição da taxa Selic, um arrocho monetário menos intenso. O problema é que a elevação do custo de vida tem se mostrado mais persistente do que o desejado. Ou seja, o risco de os juros subirem além da conta é muito alto. Assim, o Copom terá de manter todos os seus passos sob controle, pois a economia está frágil demais para conviver com um custo muito elevado do dinheiro. O crédito é um instrumento fundamental para reforçar o caixa das empresas. Não há razão para inviabilizar esse mecanismo.
O Brasil precisa, urgentemente, voltar a crescer com segurança e de forma sustentada. Desde 2014, quando mergulhou em uma severa recessão, a economia nunca mais conseguiu recuperar o fôlego. Em 2020, com a pandemia da covid-19, o quadro se agravou de vez. O desemprego disparou e a pobreza atingiu níveis assustadores. Diante desse quadro inaceitável, é vital que todos os pilares para que o motor da economia volte a girar com força estejam calibrados. Isso quer dizer inflação sob controle, juros em níveis aceitáveis e previsibilidade. O capital não aceita desaforo.
Daqui por diante, a comunicação do Banco do Central com os agentes de mercados necessitará de sintonia fina. É aí que mora o perigo. A autoridade monetária pode ser atropelada por decisões equivocadas do governo. É visível que ruídos vindos do Palácio do Planalto têm empurrado as cotações do dólar para cima. E a moeda norte-americana influencia quase todos os preços da economia. O BC reconhece que um dólar acima de R$ 5,50 é inflacionário. Mas não há perspectivas de reversão desse patamar da divisa dos Estados Unidos enquanto as incertezas políticas não darem uma trégua.
Enfim, a autoridade monetária está fazendo o trabalho que lhe cabe ao tentar conter a inflação, o pior dos impostos que incidem sobre os pobres. Mas, sozinha, não pode fazer muito. O governo como um todo precisa unificar o discurso e pavimentar um caminho sem solavancos para a retomada do crescimento. Ninguém aguenta mais retrocessos na economia. O preço pago nos últimos anos por arroubos governamentais foi alto demais. Basta.