A capital: rumos para a metrópole brasiliense

» ALDO PAVIANI Geógrafo e professor emérito da UnB
postado em 26/05/2021 06:00
 (crédito:   )
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Os idealizadores da transferência da capital da república do Rio de Janeiro para o Planalto Central não imaginaram que, em meio século, Brasília assumiria a feição de uma das três metrópoles nacionais, de acordo com a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. As três metrópoles somam, no censo de 2010, 20.144.109 habitantes. Em 2020, a estimativa do IBGE indica uma população de 22.128.196 ou crescimento de 9,8%, considerado muito elevado.


Esses dados não são apenas estatísticas das três grandes cidades brasileiras, pois, por detrás delas, seguem-se outras características acompanhadas de problemas. Esses se generalizam para todas as cidades, médias e grandes. Como exemplo, podem-se considerar as atividades sociais e econômicas por elas desenvolvidas e alguns problemas dos quais o desemprego é um dos mais cruciais. A crise trazida pela covid-19 agravou esses problemas. Isoladamente, Brasília teve um crescimento de 2010 para 2020 de 18,86%, o dobro da média se somados os crescimentos das três metrópoles nacionais.


O desemprego em Brasília passou a ser estrutural, sempre superior a 200 mil, desde o início da pesquisa, em 1992. Em 2021, por exemplo, comparam-se os dados de fevereiro e março, respectivamente, passando de 298 mil para 316 mil fora de atividades regulares e formais. Por sua vez, estavam ocupados, em fevereiro, 1.305.000 trabalhadores e, em março, pequena redução, 1.304.000 pessoas. Destacam-se os ocupados em serviços em geral: 940 mil, em fevereiro, reduzidos a 925 mil, em março — dados da Codeplan/Setrab/Seade.


Percebe-se que a atividades nos serviços é predominante na capital e que, estando em redução significa que a crise atingiu mais fortemente essas atividades dominantes, colocando na informalidade inumeráveis trabalhadores. Pesquisa específica para os que estão na informalidade será relevante para o estabelecimento de políticas públicas apropriadas para esse segmento. Todavia, a busca dos informais é dispendiosa e demorada, o que inviabiliza o levantamento, mesmo sendo importante. Porém, à luz da inviabilidade, tanto o governo do DF (GDF) quanto o governo federal (que Brasília hospeda) deveriam estabelecer um modus operandi com capacidade de resolução dessa problemática.


Assim, não basta se considerar o aumento populacional e de desempregados, pois se trata de 316 mil pessoas sem atividade formal, no DF, que se somam aos componentes da família, ao multiplicá-las por quatro, resultando em um volume de mais de 1,2 milhão de pessoas. Esse montante exigirá mais cuidados em setores como saúde pública — atendimento médico-hospitalar e de mobilidade urbana, pois os desempregados continuarão se deslocando à procura de postos de trabalho ou para outras finalidades. Se há desemprego, simultaneamente, haverá menor produção e, com isso, a redução do consumo. Por isso, o desemprego desencadeará um círculo vicioso tão amplo que afetará a economia local e nacional.


A constatação de problemas em cadeia deve ser avaliada quando o desemprego, no Brasil, atingiu a marca de 14,4 milhões de trabalhadores. Em pouco mais de dois anos, esse número vem crescendo significativamente, e alguns o atribuem à crise trazida pela covid-19. Isto pode ser verdadeiro, mas há falhas anteriores à pandemia, pela desestruturação ocorrida na mudança do governo federal, que tem demonstrado falta de projeto nacional, e seus desdobramentos que atingem o mercado de trabalho, principalmente nas grandes metrópoles, mais populosas e portadora de setores industriais e de serviços de maior magnitude. Além disso, desprezou a compra de vacinas em 2020, o que seria básico para estancar a disseminação da pandemia.


Por consequência, teremos alguns anos pela frente com esse “comportamento” trazendo a desestruturação do mercado de trabalho e, de modo geral, do funcionamento da economia brasileira. Ultrapassados esses tempos de estagnação, as atividades sociais e a economia retornarão aos trilhos e o país terá de volta o dinamismo em todos os setores da sociedade. Isso é o que se pode esperar, sendo otimista. Na pior das hipóteses, será o contrário, o que desencadeará uma crise social sem precedentes. Pessimismo à parte, o brasileiro saberá indicar os rumos que novos dirigentes poderão dar à economia e à vida social. É o que se espera.

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