A Constituição de 1988 não é chamada de cidadã à toa. Trouxe de volta muitos direitos civis e sociais que ficaram escondidos sob os porões da ditadura. A atual Carta Magna, no entanto, também passou a valorizar a investigação parlamentar. E é nas CPIs que o trabalho fica mais nítido. Afinal, nelas, os congressistas dispõem de poderes próprios de autoridades judiciais, como a quebra de sigilos e até a decretação de prisão.
A vida política pós-regime militar no Brasil é recheada de grandes CPIs. As investigações sobre o esquema de PC Farias no governo Collor, os anões do Orçamento, bingos (caso Cachoeira) e mensalão são belos exemplos de como contribuíram para o crescimento institucional do país. Revelaram não só corrupção e desvio de dinheiro público, mas, também, deixaram claro para a sociedade como poderosos da República atuavam nos gabinetes da Esplanada.
Agora, em meio à mais grave crise sanitária e econômica dos últimos 100 anos, uma nova CPI pode, sim, ser um novo marco no combate à pandemia no Brasil. Criada para investigar as ações do governo federal, a apuração conduzida pelos senadores tem tudo para apontar as falhas na gestão de pessoal e de recursos públicos contra o novo coronavírus. Mas é preciso, primeiro, superar essa guerra de narrativas entre governistas e oposição. É evidente que os aliados do Planalto vão tentar de tudo para retardar o trabalho da comissão, mas a CPI não pode ser palco de uma batalha eleitoral. Não é hora, nem isso que está em investigação.
É preciso, por exemplo, que a CPI olhe para o passado e mire o futuro. Veja o que ocorre no processo de vacinação. Cada pronunciamento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é para dizer que virão menos doses do que o previsto. Como assim? Onde está a falha? São perguntas importantes que merecem respostas. Mas é preciso ter em mente também como será em 2022. Não, não estou falando de eleição, mas, sim, sobre o que está sendo feito e contratado para garantir uma campanha nacional mais célere e abrangente no ano que vem. Quem serão os fornecedores? Todos nós queremos um futuro melhor que o presente. E a CPI poderá, sim, contribuir. É o que esperamos.