OPINIÃO

Visto, lido e ouvido — Desembestados contra a corrente mundial

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Muito mais do que reputação, empresas em todo o mundo, dos mais diversos ramos de atividades, estão buscando, cada vez mais, adaptar seus serviços e fornecimento de produtos às questões ligadas diretamente às mudanças climáticas, mais precisamente às ameaças representadas pelo rápido aquecimento global e seus efeitos sobre o planeta e, logicamente, seus negócios.

O aquecimento do planeta, que, segundo previsão balizada da Convenção-Quadro da ONU sobre o Clima, elevará a temperatura da Terra aos níveis catastróficos de 3,6 graus até o final desse século, possui a capacidade de, literalmente, fazer derreter nove em cada 10 empresas pelo mundo, arruinando todo e qualquer tipo de negócio.

Trata-se, aqui, de uma ameaça concreta global, com dia e hora para acontecer, o que tem feito com que empresários por todo o mundo adotem uma nova postura com relação a esse sério problema. São muito mais do que simples previsões pessimistas. São, na realidade, um retrato do futuro próximo a atingir, em cheio, as próximas gerações, capaz de tornar a vida desses novos habitantes do planeta, no mínimo, insuportável.

Por esse motivo, empresários de várias partes do mundo estão se mobilizando e pressionando seus governos para que adotem medidas urgentes e realistas com relação às emissões de gases do efeito estufa, bem como outras no mesmo sentido que zerem o desmatamento, as queimadas, o uso de combustíveis fósseis, o desperdício e outras medidas de proteção da Terra.

O que se tem aqui é uma corrida desenfreada contra o tempo. Também o comércio entre nações começa a experimentar um novo modelo, baseado na ética entre respeito ao meio ambiente e produção de bens. Todos aqueles países que pretendem colocar seus produtos nos mercados internacionais, sobretudo na União Europeia e nos Estados Unidos e Canadá e outros países desenvolvidos, terão, cada vez mais, que exibir selos verdes, garantindo que essas produções foram obtidas sem danos ao meio ambiente. É aí que o Brasil aparece muito mal colocado na foto.

A comunidade internacional tem acompanhado de perto o que se passa em nosso país. Os retrocessos observados nos últimos anos com relação à proteção de nossas riquezas naturais são de conhecimento de todos e não serão discursos e promessas, como as que foram feitas recentemente pelo presidente da República na Cúpula do Clima que terão o condão de esconder a realidade que pesa agora sobre nosso meio ambiente.

Não apenas as ações vindas do Executivo estão sob intensa observação dos países desenvolvidos. Também o nosso Legislativo foi colocado sob lupa intensa nesse momento em que tramitam, nas duas Casas daquele Poder, medidas (projetos e leis) que alteram de maneira drástica as legislações que dão ainda alguma proteção às nossas florestas.

A pressão exercida pelas bancadas ruralistas e do agrobusiness, fortemente unidas e amparadas pelo capital de grandes empresas, afrouxando regras e fiscalizações, ameaçam, diretamente, e de maneira afrontosa regiões inteiras da Amazônia, aumentando a crença mundial de que nosso país e nossas instituições de Estado, incluindo aí os representantes da população, trabalham diuturnamente unidos em benefício apenas dos interesses das grandes empresas que exploram e ocupam nossas terras, mesmo aquelas sob proteção ambiental. Estamos rumando, desembestadamente, na contramão da história mundial, principalmente, agora, em que a humanidade consciente busca salvar o planeta da destruição.