Houve tempo em que Roberto Carlos era receptivo a entrevistas. Mas, de alguns anos para cá, os únicos órgãos de imprensa aos quais permite entrevistá-lo são o jornal e a emissora de televisão do grupo empresarial que o tem sob contrato — como ocorreu recentemente, quando completou 80 anos. Por sua importância para a música e a cultura brasileiras, o Rei foi objeto de reverência dos mais diferentes veículos de comunicação de todo o país.
Aqui no Correio, no dia 19 último, publiquei uma reportagem intitulada Parabéns, Rei. No texto, tracei paralelo entre a comemoração dos 40 anos, em 1981, quando ele fez um show em Brasília para 200 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, e a dos 80 anos, sozinho em seu apartamento no bairro da Urca, Zona Sul do Rio de Janeiro. O isolamento social foi determinado pelas autoridades sanitárias, por conta da pandemia do novo coronavírus.
Voltando às entrevistas, nos anos 2000, a gravadora que tinha Roberto Carlos como o artista mais importante do seu cast convidava repórteres para bate-papo com ele, quando do lançamento de discos, sempre em hotéis estrelados no Rio de Janeiro, como o Copacabana Palace e o Caesar Palace. Nesse último, o astro mostrava-se bem descontraído. Terceiro a formular pergunta, quis saber como ele lidava com o TOC – trastorno obsessivo compulsivo. Sorridente, disse que vivia um processo de evolução, relacionado com o distúrbio, e exemplificou: “Já me permito cantar Negro gato — antigo sucesso da Jovem Guarda — em shows”.
Individualmente, eu o entrevistei em algumas oportunidades. A primeira foi no camarim do Ginásio Ibirapuera, no final da década de 1970, depois de um show. Chegamos até fazer uma foto juntos, a que ilustra um dos capítulos do Minha Trilha Sonora, livro que lancei em 1995. Conversei com o Rei também, nos bastidores de uma apresentação no Ginásio Nilson Nelson, em 1986. Ao perguntá-lo sobre o Plano Cruzado, ele elogiou o conjunto de medidas econômicas lançado naquele ano pelo governo Sarney.
O sucesso do show na Esplanada dos Ministérios, em 1981, aproximou o produtor do evento, o publicitário Marcus Vinicius Bucar Nunes, de Dody Sirena, empresário do artista. Dois anos depois, eles planejaram a primeira longa excursão de Roberto Carlos, que, num constelation da Vasp, viajaria para apresentações por várias capitais e cidades brasileiras. Uma semana antes, sobrevoando São Paulo a bordo da aeronave, tomei parte da mais longa entrevista do Rei. Foi quando ele revelou detalhes sobre o Projeto Emoções — nome dado à turnê, que estreou no Estádio Serejão, em Taguatinga.