Soja e abelhas: todos podem ganhar

Abelhas produzem mel, pólen, própolis e cera, porém, o papel mais importante que desempenham é sua atuação como polinizadoras das plantas. A polinização é um dos principais serviços ecossistêmicos prestados “gratuitamente” pela natureza e que beneficiam a humanidade. A polinização é o ato de transportar um gameta da parte masculina de uma flor para a porção feminina da mesma ou de outra flor, propiciando a fecundação, que vai gerar sementes.
Estima-se que cerca de 90% das plantas que existem sobre a Terra necessitem de auxílio de animais para sua polinização, para que possam se reproduzir, gerar frutos, sementes e descendentes. Estima-se ainda que em torno de 75% das plantas cultivadas no mundo dependem — em algum grau — da polinização animal para completar seu ciclo. Em decorrência, aproximadamente um terço da produção mundial de alimentos é dependente de polinizadores. Do valor da produção mundial de alimentos a cada ano, quase US$ 600 bilhões está diretamente relacionada a esses insetos. Adicione-se que as abelhas também polinizam espécies de plantas e arbustos silvestres, presentes em matas, florestas, parques, jardins, ruas, quintais, estradas e outros locais.
Inúmeros animais, como morcegos, aves e diversos insetos atuam como polinizadores de plantas. Entrementes, as abelhas são os mais importantes polinizadores em escala global, existindo cerca de 20.000 espécies delas no mundo e mais de 2.000 já identificadas no Brasil, suspeitando-se existir outras 1.000 ainda não identificadas. A espécie Apis mellifera — a abelha doméstica — é a mais conhecida, e a sua criação é denominada apicultura e realizada por apicultores. Também existem abelhas sem ferrão — como as melíponas — e sua criação é feita por meliponicultores.
A soja é uma planta cujas flores se autopolinizam, ou seja, mesmo na ausência de polinizadores, ocorre a produção de sementes. Ainda assim, sob determinadas condições, a presença de abelhas na soja contribui para um aumento no número de grãos e no peso do grão de soja e, como tal, aumentando a sua produtividade. Se a produtividade é maior, demanda-se menor área de cultivo para obter a mesma produção.
O Brasil é o maior produtor de soja do mundo, cultivando aproximadamente 37 milhões de hectares. Esse volume é quase o triplo do que era cultivado há 20 anos no país, e a tendência é de aumento da produção, porque a demanda mundial continuará crescendo e a competitividade dos produtores brasileiros não encontra paralelo em escala global. No passado recente, com a expansão da área de soja, a cultura se aproximou dos apiários, e os apicultores verificaram que a soja é visitada pelas abelhas, as quais coletam o néctar para produzir mel. Com o aumento da produção de soja, este fenômeno ficará cada vez mais intenso. Constatamos, então, que a colocação das colônias em locais adjacentes das lavouras de soja passou a ser benéfica para ambos. Ou seja, o apicultor produz mais mel e o produtor de soja verificou também que as plantas de soja, localizadas próximas às colmeias com as colônias de abelhas, produziam mais.
Com foco nos benefícios para apicultores, agricultores e para o meio ambiente, a Embrapa e a Bayer estabeleceram um projeto de parceria de pesquisa para entender os pormenores da complexa interação entre abelhas e a cultura da soja. Os estudos buscam estabelecer quais espécies de abelhas visitam a soja, qual a fase da cultura e o horário de preferência das mesmas, se há diferença entre as diferentes regiões do país onde a soja é cultivada.
Também estamos estudando a orientação das abelhas em relação à soja, que são mediadas por cores e substâncias voláteis e fidelizadas pela quantidade e qualidade do néctar fornecido. Também buscamos estimular o manejo adequado das principais pragas da soja para incentivar uma relação harmônica com as abelhas. É nossa meta ainda identificar os ganhos de produtividade da soja, em função da presença de abelhas nas proximidades.
E, muito importante, queremos integrar harmonicamente a produção de soja com a apicultura e com as demais espécies de abelhas nativas que vivem no entorno das lavouras. Nesse sentido, o foco dos nossos estudos é promover uma forma de convivência que propicie uma relação de benefício mútuo para os apicultores e os agricultores, protegendo o meio ambiente e levando para o consumidor um produto de qualidade.