Visão do Correio

Medidas essenciais

Em contraponto às fortes pressões e críticas à política ambiental de seu governo, o presidente Jair Bolsonaro adotou um tom ameno e conciliador na recente Cúpula de Líderes sobre o Clima, que contou com a participação de dirigentes de 40 dos principais países do mundo. Entre outras proposições, prometeu ações para acabar com o desmatamento ilegal no Brasil até 2030 e neutralizar as emissões de gases do efeito estufa até 2050, antecipando em 10 anos a meta anteriormente fixada.
São medidas necessárias e urgentes, mas que precisam passar do discurso, ouvido com desconfiança por muita gente, sobretudo ambientalistas, para a prática, o que não tem ocorrido. Ao contrário, o que se tem visto, dando razão aos que desconfiam, é um forte avanço do desmatamento na Amazônia, com sucessivos recordes de áreas devastadas. Em março deste ano, por exemplo, foram derrubados 367,61 quilômetros quadrados de floresta, a maior extensão já suprimida no mês, segundo dados de série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), iniciada em 2015.
Também dão força à desconfiança em relação às intenções do governo as denúncias de desmonte das estruturas de fiscalização do corte ilegal de árvores, como as registradas em manifesto de funcionários do Ibama, e as posturas adotadas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Trata-se daquele que, em reunião ministerial no ano passado, sugeriu aproveitar os holofotes da imprensa voltados à pandemia, para “passar a boiada” das desregulamentações ambientais. E que é alvo de notícia-crime enviada ao STF pelo delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva — exonerado do cargo de superintendente da PF no Amazonas logo em seguida —, que acusa Salles de atuar em defesa de interesses dos madeireiros, após a maior apreensão já feita no país de madeira ilegal, de acordo com a investigação.
Portanto, para que as promessas de Bolsonaro ganhem credibilidade, precisam ser demonstradas na prática. E logo. Além de preservar a floresta, as comunidades indígenas e as inúmeras espécies ameaçadas, as medidas são essenciais para colaborar com o clima do planeta. Urge frear o aquecimento global, já que, como alertou a ONU na própria cúpula, a última década foi a mais quente da história do planeta.
Vale destacar, ainda, que preservar o meio ambiente é também fundamental para a economia, pois não se pode mais apostar em crescimento econômico dissociado da sustentabilidade. Degradação ambiental prejudica os negócios em escala internacional. E não é à toa que 50 dos maiores grupos privados do país, integrantes do Conselho Diálogo pelo Brasil, capitaneados pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), têm cobrado ações de curto prazo que comprovem, de fato, o compromisso do governo federal com o combate ao desmatamento e com a preservação ambiental.