Vivemos tempos difíceis. É um fato. A pandemia do novo coronavírus acentuou ainda mais os nossos problemas do dia a dia. Enfrentamos uma crise econômica grave e distante do fim, a falta de comida é real em boa parte dos lares brasileiros, presenciamos os nossos hospitais lotados, sinto que estamos numa espiral de desafios que vão perdurar por muito tempo e sem uma estratégia clara de ação.
Por isso, em primeiro lugar, é preciso saber ouvir o pensamento contrário. Está se refletindo na sociedade um efeito semelhante ao que ocorre nas redes sociais. A tão chamada bolha. Há cada vez mais uma intransigência em aceitar o posicionamento diferente. Onde começou isso? Impossível cravar, mas ficou nítido com as eleições presidenciais de 2014. O tal vermelho contra amarelo-azul só fez se intensificar. Surgiram uma série de adjetivos, como "minions", "gado", "comunistas", que servem apenas para empobrecer o debate e aumentar o atrito.
Acredito também que a popularização de aplicativos de troca de mensagens, como o WhatsApp e o Telegram, contribuíram para isso. É cada vez mais fácil nos cercamos de pessoas que pensam semelhantemente a nós. Em tempos de home office, isolados em casa, o processo de “bolhetização” das relações sociais se tornou mais evidente. Se quisermos ficar cercados só de opiniões semelhantes, é muito fácil.
Veja, por exemplo, os canais do Telegram. Há coisa muita bacana lá. É possível se reunir só com amantes do cinema, da literatura, estudar uma língua, mas, ao mesmo tempo, há um espaço para difusão de mensagens de políticos, partidos, que parece muito mais com uma lavagem cerebral do que com um debate em si. As postagens têm o intuito de reforçar o posicionamento, não de discutir alternativas com os seguidores. Considero preocupante. Ainda mais porque o monitoramento é praticamente impossível, tendo em vista que qualquer tentativa de regulamentar não dará certo.
Por isso, faço um apelo. Não se feche em uma bolha. Pare para ouvir o outro lado. Seja ele qual for. Querer saber como o semelhante pensa é importante para o próprio amadurecimento de ideias. Com certeza, as coisas não ocorrem só da forma como pensamos. Todo debate tem dois lados. Essa, inclusive, é uma das caraterísticas fundamentais do bom jornalismo: a pluralidade.