Sonho de Ícaro
Brasília tem formato de avião, com asa norte e asa sul, nas quais Lucio Costa imaginou as superquadras. Que seriam centros democráticos de convivência entre patrões e serviçais: motoristas, babás, cozinheiras, misturando-se a altos escalões do governo. Claro que o patriciado logo fez com que os demais tripulantes pegassem o rumo das cidades-satélites. Casa Grande expulsou Senzala para a periferia. E para livrar-se do tédio e da ‘solidão deste planalto’, os donos do poder passaram a usar intensamente o aeroporto. Criou-se a semana “T.Q.Q”, segundo o código aeronáutico. Chega-se na terça, almoça-se na 402 sul, vai-se ao trabalho à tarde e, na quarta, trabalha-se o dia todo (ufa!). Na quinta embarca-se novamente. Se o tempo tiver sido insuficiente, fazem-se sessões extraordinárias, ganha-se jeton, ajuda de custo e mais tíquetes. Tudo como deve ser numa cidade de vocação aérea: os que estão em terra fazem a manutenção e o catering, enquanto os demais voam. E como voam! O hino da cidade poderia ser o “Sonho de Ícaro”, na voz de Biafra: Voar voar, subir subir, ir pra onde for/ Descer até o céu cair ou mudar de cor. É assim que caminha (ou voa) a humanidade. O eixo é monumental para os deslocamentos dos carros pretos com placas oficiais, a caminho do… aeroporto. Não há o estresse do check-in. Decola-se suavemente, deixando em terra a realidade e suas turbulências. Machado não tinha suas noites de almirante? Pois aqui o céu é sempre de brigadeiro.
» Thelma B. Oliveira,
Asa Norte
Reforma política
A crise política brasileira é muito séria e na sua origem está o grande número de partidos que existem no país, cerca de 32. Isso impede a governabilidade, eleva o custo das eleições, faz uma balbúrdia, facilita a corrupção e afasta o cidadão da política. Sem programas e propostas, os partidos são apenas agremiações oportunistas e inexpressivas, criadas por minorias para levar vantagem. Depois de eleitos, ignoram os partidos e buscam se juntar em estruturas como o Centrão, para terem força e pressionar governos por mais vantagens. Os partidos são a base da política e da democracia em todo lugar. Países desenvolvidos e respeitados, como EUA, Inglaterra, Alemanha, França, Suécia, Japão etc. têm um número restrito de partidos, que varia de dois ao máximo de 4 ou 5, com programas e propostas definidos para a economia, relações sociais, política externa etc. Fica fácil para a população conhecer as políticas de cada partido, seguir seu desempenho e cobrá-los, por possíveis erros ou desvios. Em todos esses países o sistema partidário é o voto distrital, puro ou misto, que garante que cada cidade, ou região, eleja um representante que ela conhece e mora lá. Isso torna as eleições mais baratas, porque a área geográfica de cada distrito é pequena e dificulta a eleição de celebridades, empresários e de pessoas ligadas a corporações de qualquer natureza. No distrital, o eleito fica mais próximo da população e pode ser acompanhado e cobrado pelos cidadãos. Hoje, a população não se sente representada pelos parlamentares. Não se deve confundir voto distrital com Distritão, que engloba toda área de um estado e só agravaria nossos problemas, afastando ainda mais o povo dos parlamentares.
» Ricardo Pires,
Asa Sul
Corrupção
No Brasil, para o cidadão brasileiro, acredito, contar com esse Supremo, com esses integrantes, a seu favor, está se tornando tarefa impossível. Após tanto trabalho, delongas e despesas com o dinheiro público, se chegar à infeliz conclusão de tribunais não terem competência para julgar processos de algumas “excelências” seriamente enroladas com a Justiça é, simplesmente, estarrecedor. Na sequência, é aquela história de que as provas anexadas aos processos podem ser anuladas. Disso, tudo o que se depreende é mais uma enorme oportunidade para que esses bandidos, que saquearam a nação possam sair ilesos, andando por aí botando banca, dando de injustiçados e se locupletando com os recursos roubados. O cidadão brasileiro não merece a perpetuação dessa velha e maldita corrupção que atormenta o país. Não dá mais. É preciso mudar. Algo tem que ser feito.
» Vilmar Oliva de Salles,
Taguatinga
Marchas
Em princípio de 1964, eu recém-saído do internato de uma Escola Agrícola e prestes a servir o garboso Exército fui morar em Natal na casa de um parente dos seus saudosos pais, eles políticos influentes e ricos, na mansão deles vários aparelhos de TVs. Sempre fui muito ligado a acontecimentos políticos e lembro ainda de ter assistido pela TV à “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, no Rio de Janeiro, com mais de 100 mil pessoas, mas houve em várias outras localidades Brasil afora. Domingo (11/4) foram veiculadas várias “Marchas da Família Cristã pela Liberdade”, praticamente em todo o Brasil. Tem uma grande diferença entre as duas. As da atualidade com várias faixas pedindo o fechamento do STF, do Congresso Nacional e intervenção já, sendo o capitão ditando as normas. Quando o marechal Castelo Branco, o primeiro a assumir o governo militar, após a deposição de Jango, ele, o marechal, não odiava ninguém e leiam os acontecidos, eis aí uma grande diferença, é bom não agir como Tomé: “Ver para Crer”.
» Hortencio Pereira de Brito Sobrinho,
Goiânia (GO)