Em meio ao nosso pesadelo diário com a pandemia do novo coronavírus, o Brasil acordou estarrecido, nesta quinta-feira (8/4), com os desdobramentos da investigação da morte do menino Henry Borel, de 4 anos. E as revelações policiais trazem à tona uma trágica história, com um desfecho tão macabro quanto o de Isabella Nardoni, 13 anos atrás. Mas com um agravante: a criança, mesmo tão pequena, dava sinais de que corria perigo.
Por isso, em primeiro lugar, pergunto: até quando nossas crianças vão ser oprimidas, agredidas e mortas? Fico pensando, também, em quantas estão neste momento nas mãos de agressores ou potenciais assassinos. Temos visto uma apuração policial eficiente na morte de Henry, mas que não ocorre em todos os casos que são registrados.
Cito um rápido exemplo: o desaparecimento dos três meninos de Belford Roxo, também no Rio, pouco antes do réveillon. A história continua sem solução, sendo que a investigação só começou de fato depois que os parentes começaram a fazer protestos e a chamar a atenção da sociedade civil. Estão vivos? Mortos? Foram sequestrados? Ninguém sabe. O que faz aumentar ainda mais o sofrimento dos parentes.
O assassinato de Henry Borel, além de toda a crueldade feita com o garoto, também teve o tão famoso “sabe com quem está falando?”. Após o crime, como mostra a investigação policial, o vereador acusado de participação tentou abafar o caso. Dr.Jairinho quis evitar que o hospital enviasse o corpo para o IML, como mostra o depoimento de um executivo da área da saúde. Chegou também a ligar para o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, que, segundo consta, tratou o caso de forma protocolar. Ou seja, o vereador quis usar a influência política que imaginava ter para tentar evitar uma apuração precisa da morte do menino. Lamentável, no mínimo. Chega a ser patético pensar que um político pode se achar acima da lei.
Assim como a morte de Isabella, jogada do sexto andar de um prédio em São Paulo em 2008, a de Henry entrará para a história como uma das que tiveram grande comoção nacional. Mais do que justiça, que virá, queremos que histórias como essas nunca mais se repitam, marcadas por negligência e cumplicidades familiares. Então, está mais do que na hora de reforçarmos os mecanismos de denúncia e proteção de vítimas de violência doméstica. Nunca é tarde.