O Brasil vive, neste início de abril, a Páscoa mais triste da sua história. Nesta data, em que católicos de todo o mundo refletem sobre o sentido da crucificação, morte e ressurreição de Cristo, o país assiste, atônito, a uma escalada assustadoramente letal da covid-19. É tempo, também, de todos nós, governantes e população, de forma geral e independentemente de religião e de preferências políticas, refletirmos sobre os nossos erros.
Na verdade, já passa, e muito, da hora de cada um de nós procurar corrigir comportamentos equivocados. Afinal, vale para todos o mandamento cristão de desejar e de praticar, em relação ao próximo, o que queremos para nós mesmos. Vale, sobretudo, para aqueles que, a despeito de todas as advertências, cederam e continuam a ceder à criminosa tentação de participar de aglomerações e festas clandestinas. Essa postura irresponsavelmente letal, avaliam especialistas, foi uma das principais causas da multiplicação do número de mortes e de casos da doença entre nós.
Para quem tem fé, é hora de intensificar as orações e de reforçar o cumprimento dos protocolos sanitários. Seja você um cristão ou não, saiba que atitudes como uso de máscara, correta higiene das mãos e distanciamento social são pequenas ações que, neste momento, podem contribuir, decisivamente, para alcançarmos feitos que a muitos de nós, neste momento, cada vez mais grave, só nos parecem possíveis por meio de milagres.
Mas são milagres — na verdade, realizações — que, à luz da ciência e da nossa vontade, força, fé, energia, podemos alcançar. Desde que sigamos os protocolos sanitários, será possível frear a assustadora escalada da pandemia entre nós. Dessa forma, podemos chegar ao milagre de uma retomada célere do crescimento econômico. Além do milagre da multiplicação dos pães, com os postos de trabalho que serão abertos e permitirão que parte dos 14,3 milhões de desempregadas e desempregados do país consigam ocupação remunerada e possam prover o sustento de suas famílias.
Enquanto cada um dos mais de 200 milhões de brasileiros não tiver sido imunizado, é importante que todos façam a sua parte, de forma a reduzir drasticamente a taxa de transmissão e, consequentemente, o número de mortos pelo vírus. Nesta pandemia, a mais devastadora dos últimos 100 anos, a semana encerrada, ontem, confirma março como o mês mais letal da pandemia no Brasil, um marco do luto nacional: foram 31 dias em que o coronavírus tirou a vida de nada menos que 66.573 pessoas.
A situação do país, com UTIs lotadas e brasileiros morrendo na fila sem conseguir um leito de terapia intensiva, é de uma dimensão e dramaticidade sem precedentes entre nós. O quadro agrava-se a cada dia. Do primeiro diagnóstico positivo da doença em solo brasileiro, oficialmente confirmado em 26 de fevereiro do ano passado, até o último dia 31, o país totalizava 321.515 mortos. E registrava, até estão, mais de 12,7 milhões de infectados. E o pior: sem sinal de melhora no curto prazo.
Desde que o Brasil se transformou no epicentro da pandemia no planeta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) expressa preocupação com a evolução do coronavírus no país e chama a atenção do governo federal para tomar sérias e agressivas medidas para conter a estonteante disseminação da covid-19. Na quinta-feira, diante do agravamento da situação, a Bolívia decidiu interromper a entrada e a saída de pessoas na fronteira com o Brasil. Na América do Sul, até ontem, o Paraguai era o único país que ainda se mantinha aberto a cidadãos brasileiros.