Por ORLANDO THOMÉ CORDEIRO — Consultor em estratégia
8 de março — Fachin anula as condenações de Lula; Brasil tem 1.114 óbitos por covid, totalizando 266.614.
10 de março — O ex-presidente Lula concede entrevista coletiva; Brasil tem 2.349 óbitos por covid, chegando ao total de 270.917.
21 de março — Economistas e empresários divulgam manifesto; Brasil tem 1.259 óbitos por covid, totalizando 294.115.
23 de março — 2ª turma do STF declara Moro suspeito no caso do tríplex do Guarujá; Brasil tem 3.158 óbitos por covid, totalizando 298.843.
29 de março — Bolsonaro promove troca em seis Ministérios e demite comandantes das FFAA; Brasil tem 1.969 óbitos por covid, totalizando 314.268.
31 de março — Ministro da Defesa apresenta novos comandantes das FFAA.
31 de março — É lançado um manifesto público assinado por seis pré-candidatos à Presidência e com apoio de Sérgio Moro.
31 de março — Brasil tem 3.950 óbitos por covid, totalizando 321.886.
Como se pode ver pela cronologia acima, março foi um mês com muitas reviravoltas. Apenas algo não mudou: a tragédia das mortes provocadas pela pandemia. A esperança trazida em 17 de janeiro quando a enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose da CoronaVac foi sendo substituída pela sensação de impotência diante da inação do governo federal no processo de aquisição do imunizante, fazendo com que o Brasil esteja atrasado até mesmo na comparação com os vizinhos de continente. Não é por outro motivo que as pesquisas dos mais diversos institutos apontam um crescimento vertiginoso nos índices de reprovação do governo na gestão da pandemia.
Nesse sentido, a supracitada carta pública O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo, assinada por centenas de economistas e banqueiros, cumpriu um relevante papel ao cobrar do governo federal providências concretas e urgentes para o enfrentamento da pandemia, com foco em quatro propostas: acelerar o ritmo da vacinação; incentivar o uso de máscaras tanto com distribuição gratuita quanto com orientação educativa; implementar medidas de distanciamento social no âmbito local com coordenação nacional; e criar mecanismo de coordenação do combate à pandemia em âmbito nacional. Não é exagero atribuir a essa iniciativa uma das mais relevantes razões para a queda de Pazuello.
Todos esses fatos aqui listados compõem uma parte significativa de um cenário marcado pela intensa movimentação de diferentes protagonistas em que vem sendo discutido o futuro político do país.
Indiscutivelmente, a possibilidade do ex-presidente Lula se candidatar à Presidência trouxe novos contornos para a sucessão de Bolsonaro. De um lado, o bolsonarismo passa a ter um adversário para “chamar de seu”, com nome, sobrenome e endereço conhecidos. De outro, o lulopetismo enxerga a oportunidade de uma revanche de 2018, abrindo espaço para corrigir o que consideram ter sido a injustiça cometida nas últimas eleições quando sua maior liderança foi impedida de concorrer.
Outra consequência já conhecida é a articulação de outros seis pré-candidatos que intensificaram seus entendimentos, tendo como primeiro resultado prático a divulgação do já citado Manifesto pela consciência democrática.
E como está esse debate na mídia e nas redes? Na maior parte das vezes, as análises indicam que o segundo turno estaria definido, configurando-se numa disputa entre Bolsonaro e Lula. Tal premissa tem tido como consequência imediata uma discussão em que se procura estimular as pessoas a responderem como votariam diante dessa hipótese. Ao priorizar esse enfoque, cria-se, propositalmente ou não, um cerceamento ao processo de construção de qualquer candidatura fora desses dois grupos.
Em direção oposta, pesquisas de opinião e monitoramento das redes sociais apuram a existência de um sentimento crescente indicando que entre 40% e 50% da população têm declarado intenção de não votar em nenhum desses dois candidatos nas eleições de 2022. Ou seja, há espaço para outro caminho.
Portanto, quem acredita e trabalha pela construção de uma candidatura alternativa e competitiva precisará ter muita firmeza para não cair na arapuca presente na pergunta sobre qual opção adotaria no tal segundo turno tratado como inevitável. Diante dela, devem responder com convicção e reafirmando seu compromisso com a viabilização do autointitulado “Polo Democrático”. Caso contrário, ao se aceitar o debate como posto pelos dois grupos, a consequência é uma só: matar no nascedouro qualquer possibilidade de uma solução diferente da representada por eles.
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