Por JOSÉ LUIS GORDON — Doutor em economia pelo IE/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor de Planejamento e Relações Institucionais da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii)
Diante da crise gerada pela pandemia, o Brasil tem um grande desafio pela frente e, como estratégia de futuro do país, o primeiro passo é observar as lições que ela nos trouxe até agora. A indústria da saúde, por exemplo, fundamental para a sociedade, com o desenvolvimento de fármacos, biofármacos, máquinas, equipamentos e vacinas demonstrou que há um importante caminho a ser percorrido e que passa por um alto grau de investimento tecnológico para este segmento.
Como vimos desde o início da crise, há mais de um ano, o Brasil ainda tem forte dependência de mercados externos para adquirir materiais e produtos do setor de saúde — desde os mais simples, como equipamento de proteção individual (EPIs), até os mais complexos, como respiradores. Essa vulnerabilidade de acesso a bens também se observa em outros setores de nossa estrutura produtiva. Para fortalecer a cadeia nacional, o caminho do desenvolvimento tecnológico é o motor desse processo. As empresas precisam se adaptar rapidamente às mudanças que vieram com a pandemia em relação aos seus produtos e procedimentos, apostando em novas tecnologias, como Inteligência Artificial (IA), Manufatura 4.0 e Internet das Coisas (IoT) e novos materiais. No caso do Brasil, a bioeconomia é uma das áreas de destaque e que temos grande potencial.
Neste caminho, a inovação pode representar um salto em direção à almejada recuperação econômica, por isso, a necessidade de o país investir no fortalecimento do setor produtivo, na economia digital e nas chamadas tecnologias verdes. Com políticas públicas, é possível estimular o setor produtivo a inovar mais e de forma mais sustentável gerando resultados significativos.
Além disso, será preciso um conjunto coordenado de instrumentos modernos e ágeis, que envolve desde de recursos não reembolsáveis para diminuir risco e curso de projetos de pesquisa e desenvolvimento, até estímulos fiscais para investimentos sustentáveis, mecanismos de financiamento inovadores (como os green bonds), além de compras públicas para o setor de saúde, direcionadas para o desenvolvimento tecnológico.
Está claro que a inovação é essencial tanto no aspecto social quanto econômico e, para isso, é imprescindível o fomento para que projetos tecnológicos se tornem realidade e atendam as demandas industriais, principalmente com o envolvimento das empresas e da parceria com universidades, centros de pesquisa e institutos Senai de inovação, ou seja, um mundo mais interativo e cooperativo.
A relação entre governo, setor produtivo e centros de pesquisa tem se mostrado essencial durante a pandemia. A maior prova recente disso é o desenvolvimento da vacina AstraZeneca, que envolveu a Universidade Oxford, o grupo farmacêutico AstraZeneca e o governo, um dos grandes financiadores do projeto.
Aqui no Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) ajuda o setor industrial a ser mais inovador atuando nesta direção, com aporte de recursos não reembolsáveis, coinvestimento com o setor produtivo em pesquisa, desenvolvimento e inovação, diminuindo riscos e custo para as empresas. Além disso, a organização trouxe um modelo de fomento ágil e flexível, que uniu indústrias e centros de pesquisa em projetos inovadores para o combate à covid no país.
Nesse enfrentamento, mobilizamos nossa rede de 61 unidades, formada pelos principais centros de pesquisa do país, para firmarmos importantes parcerias com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Sebrae, por exemplo. Como resultado, foram investidos pela instituição valores que superaram a marca de R$ 40 milhões em mais de 60 projetos de P,D&I para a realização de projetos com foco no diagnóstico, tratamento e prevenção da covid-19. Em um ano, foram desenvolvidos desde respiradores, sanitizantes, EPIs, até testes clínicos e aparelhos de monitoramento.
O cenário pós-covid-19 demanda desde já uma sociedade extremamente inovadora. O país precisa ter uma cadeia produtiva capaz de suprir localmente suas necessidades, com menor dependência da importação de componentes. Para isso, é preciso investir na formação de um complexo industrial de saúde e, em outros setores, que garanta desenvolvimento e tecnologia dentro de casa. Agora, é o momento de unir esforços e dar um passo definitivo rumo à inovação.
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