Desde 1960

Visto, lido e ouvido — Brasileiros em segundo plano

Por Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Estivéssemos em um conflito armado real, teríamos perdido a guerra logo nos primeiros combates, nos rendendo ao inimigo quase sem luta. Humilhados, assinaríamos um tratado de rendição incondicional, com todos os prejuízos que dele decorrem, nos tornado prisioneiros de nossa própria fraqueza. Substituindo os fuzis, as balas e a pólvora por vacinas, seringas e oxigênio e trocando a guerra pela pandemia, de fato capitulamos diante do mundo.

Diria o filósofo de Mondubim: o Brasil não foi à guerra, mas também não se acovardou. Cobriram a capital com um pano e escreveram: o Brasil mudou. Mudou o Brasil ou teríamos mudado nós? Eis a questão que se impõe, depois de termos sido considerados exemplo para o mundo no quesito vacinação em larga escala e em tempo recorde. Deu no que deu. Incrivelmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a quem cabia alertar o mundo sobre o potencial desse vírus, demorou para ativar o alerta vermelho. Vermelho, repetimos propositadamente. É bom lembrar que o mesmo fez o governo chinês.

Escondeu a disseminação do patógeno o quanto pôde por razões próprias das ditaduras do gênero.
Desde o início da pandemia, o presidente do Brasil pregava a prevenção. Logo foi chamado de louco. Inclusive, essa é uma questão que, cedo ou tarde, terá que ser respondida à nação e julgada no devido tempo. Aqui mesmo em Brasília a coluna registrou o fato de uma doméstica ter ido ao posto de saúde com todos os sintomas da doença e ter sido orientada a voltar para a casa no mesmo transporte coletivo que a levou. Erros por cima de erros, externos e internos, não possuem o poder de recompor o que foi ceifado e enterrado.

Embora digam que a busca por culpados não irá recompor o passado, ao menos servirá para que fatos como esse não tenham os mesmos responsáveis, ansiosos por voltarem em 2022. É necessário, sim, que se faça uma retrospectiva didática dessa pandemia, em toda a sua extensão e dor, para que avivemos a memória de um tempo em que centenas de cidadãos perderam a vida por ação, omissão e inanição de nossos homens públicos. O Judiciário tomou para si um papel terrível de legislar, tirando o poder do Executivo enquanto se preparava para condenar inocentes e livrar Lula, que confessou: “Ainda bem que o monstro do coronavírus veio para demonstrar necessidade do Estado.”

Enquanto isso, médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde, na linha de frente, morriam como formigas. Essa era, afinal, uma guerra, que, desde o início, já se podia crer perdida. Por tantas mentiras, altos interesses e larga desunião entre os Poderes.