Caro leitor, me responda: o que você considera como lockdown? A pergunta é necessária porque, ao pé da letra, entendo como a versão mais rígida do distanciamento social, em que a recomendação de isolamento passa a ser obrigatória para todos os moradores de determinada localidade. Hoje, no Distrito Federal, apesar das dezenas de restrições às atividades decretadas pelo GDF, estar aberto é regra, não a exceção — mesmo que clandestinamente.
O descumprimento do decreto é ainda maior nos fins de semana. Do Jardim Botânico a Taguatinga, passando por Guará e Samambaia, feiras seguem funcionando a todo vapor, com muitos comerciantes abrindo as barracas sem autorização — na teoria, poderiam funcionar apenas os que vendem produtos alimentícios, mas não é o que temos visto. Sem contar que não há um controle da quantidade de público. Na entrada, mede-se a temperatura, e só.
Em bares, principalmente os localizados ao redor de praças, o descumprimento da regra vigente é ainda maior. A portas fechadas, os clientes seguem consumindo dentro do estabelecimento. Ou, então, compram a bebida e promovem aglomeração nos bancos públicos em frente ao ar livre. Muda apenas o lugar da mesa, já que a aglomeração continua.
A crise econômica é, sim, muito grave. E, em grande parte das vezes, o comerciante abre no desespero mesmo, para tentar conseguir pagar as contas. O dinheiro está curto. Sem poder funcionar, não vai conseguir faturar. Muitos, inclusive, pegaram empréstimo no ano passado e temem não conseguir honrar com o compromisso, afinal, o prazo de carência está perto do fim. É preciso que o governo se atente a isso em breve.
E todo esse descumprimento se reflete no baixo nível de isolamento social. Chegou a ficar abaixo de 40% nesta semana no Distrito Federal. É um índice muito baixo, alertam epidemiologistas, para o controle da transmissão do vírus. Lockdown pela metade pune apenas parcela dos comerciantes e não resolve o problema. Afinal, os hospitais seguem lotados, e a curva da média móvel de casos e mortes se mantém ascendente. Lockdown é para todos; não só para os outros.