A tragédia vivida pelo país em meio à pandemia do novo coronavírus ganha contornos cada vez mais assustadores. Nas últimas 24 horas, 2.648 brasileiros perderam a vida para a covid-19, e as perspectivas são de piora nesse quadro. Epidemiologistas que acompanham a crise sanitária com lupa dizem que as próximas quatro semanas serão terríveis. Se fevereiro registrou recorde de mortes, março será pior e abril tende a ser mais devastador. Muitas famílias ainda vão chorar a perda de entes queridos.
A chegada do cardiologista Marcelo Queiroga ao Ministério da Saúde dá uma ponta de esperança ante o filme de terror a que assistimos diariamente. Apesar de, cuidadosamente, dizer que a política conduzida pela pasta é a do presidente Jair Bolsonaro, que insiste em desacreditar a pandemia, o novo ministro tem feito um discurso de conciliação, reconhecido a gravidade da doença e recomendado o distanciamento social e o uso de máscaras enquanto as vacinas não chegam. Ainda é pouco, mas é importante para diferenciar a sua gestão do desastre que foi a administração de Eduardo Pazuello.
Queiroga sabe que não há tempo a perder. Se o governo não acelerar e vacinação e tocar um amplo plano de combate à covid-19 com governadores e prefeitos, a tragédia será enorme. Quando fala em união nacional, o ministro tem a exata noção de que o momento não é mais para ataques, como se a crise provocada pelo novo coronavírus fosse uma questão política. Que tudo se resume às disputas eleitorais de 2022. Foi esse pensamento mesquinho que transformou o Brasil no epicentro da doença no mundo — já morre mais gente diariamente no país do que em qualquer outro lugar do planeta.
Boa parte da população está perdida. Não sabe no que acreditar, justamente por conta da politização da pandemia. Cabe, portanto, às autoridades darem os rumos corretos para tirar o país do colapso. Os sistemas de saúde público e privado estão no limite. Há filas de esperas por leitos de unidades de tratamento intensivo (UTIs) em quase todos os estados. Todos os dias, os cidadãos são assombrados pelas notícias de que centenas de brasileiros morreram na fila de espera por um atendimento, muitos, por falta de ar, asfixiados. Não é possível aceitar passivamente tamanho descalabro.
O Brasil precisa retornar rapidamente ao controle. A prioridade tem que ser salvar vidas. O país está próximo da marca de 300 mil mortes pela covid-19. A disseminação descontrolada do vírus está parando a economia. Os principais indicadores apontam que voltaremos à recessão nesse primeiro semestre do ano. Ainda é possível reverter tal situação. Basta que um plano eficiente e confiável de imunização seja colocado em prática. Não há mais espaço para promessas. Agora, exige-se ações concretas. A fatura da ineficiência está pesada demais.
Pais estão morrendo e deixando milhares de crianças órfãs. Idosos perdem a vida e tiram o sustento de muitas famílias. Jovens veem o futuro comprometido diante da desestruturação do sistema educacional. Ministro Queiroga, sua missão está dada. Agora, é acertar e acertar. O Brasil pede socorro.