Hoje, 8 de março, é o Dia Internacional da Mulher, e a Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (SOGIMIG) acredita ser um momento importante para a discussão de temas que envolvem o universo feminino. Este não é somente mais um Dia Internacional da Mulher, quando levantamos as bandeiras necessárias e gritamos contra injustiças e violências. Estamos diante de uma data completamente diferente de todas outras. A pandemia tem influenciado e agravado certas realidades nestes últimos 12 meses, e alguns alertas precisam ser dados. Como está a mulher neste um ano de pandemia no Brasil?
Como está a violência doméstica? Como a mulher tem se cuidado? Como estão sendo feitas as consultas com ginecologistas? E os exames regulares, com qual frequência estão sendo realizados? Como estão as grávidas no pré-natal e no pós-parto durante a pandemia? Quais os riscos da amamentação para o bebê e para a mãe?
Dados do relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que os números de feminicídios acumulados entre março e maio de 2020 aumentaram em relação ao mesmo período de 2019. No estado do Acre, por exemplo, aumentou 400% em comparação aos três meses do ano passado, subindo de uma para cinco mortes. Em Mato Grosso, os casos subiram 157,1% chegando a 18 mortes. Já no Maranhão, o índice aumentou 81,8%, de 11 para 20 casos. No Pará, o crescimento foi de 75%, de 8 para 14.
Um levantamento realizado pelo instituto Datafolha, no período de novembro de 2019 até novembro de 2020, aponta que 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Segundo a pesquisa, 42% dessas violências foram cometidas em ambiente doméstico.
Com o intuito de avaliar a percepção de ginecologistas e obstetras sobre os cuidados com a saúde de suas pacientes em meio à pandemia da Covid-19, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) encomendou uma pesquisa com 574 profissionais. Ela foi feita no período de 20 de julho a 16 de agosto de 2020 e revelou o comportamento de pacientes e gestantes no Brasil durante a pandemia. Para 47% de ginecologistas e obstetras, os trabalhos foram influenciados por causa da pandemia, 44%, parcialmente, e somente 10% dos profissionais não tiveram consequências em seus atendimentos por causa da covid-19.
Na rotina do pré-natal houve também uma alteração significativa. Para 64% dos profissionais houve mudança nos atendimentos; contra 34% que não observaram nenhuma alteração. A maior preocupação observada nas gestantes durante o período da pesquisa foi o medo de contágio e transmissão vertical da covid-19, com 57%. Em seguida, 23% manifestaram receio de consequências para o feto como malformações, prematuridade e morte fetal, enquanto 52% dos profissionais notaram atraso no início das consultas de pré-natal e foi verificado que 82% das pacientes tinham medo da internação hospitalar por ocasião do parto. Além disso, 81% das gestantes temem o contágio durante as consultas de pré-natal.
Até o momento, não há nenhuma orientação para que as mulheres não engravidem, como houve na epidemia de Zika. O pré-natal continua a ser a melhor maneira de cuidar da gestante e de seu bebê, mesmo em tempo de isolamento social. De acordo com os especialistas, em hipótese alguma ele pode ser descontinuado, e a gestante deve realizar as suas consultas de rotina e todos os exames de pré-natal, mas o calendário pode ser mais flexível se a grávida estiver em perfeita saúde.
Segundo o Ministério da Saúde, não há comprovação científica da transmissão da covid-19 pelo leite materno. A comunidade científica continua fazendo testes em leite de mães com a infecção confirmada e suspeita, mas não foram encontradas comprovações de contágios pela amamentação.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), há um declínio alarmante na imunização contra o HPV de adolescentes em todo o mundo, em decorrência de problemas relacionados à pandemia da covid-19. No Brasil, a cobertura vacinal caiu pelo menos 14% desde 2010. A principal causa para o aparecimento do câncer do colo de útero é a infecção pelo HPV, ou Papilomavírus Humano.
A OMS também afirma que a segurança e a eficácia das vacinas contra o coronavírus não foram avaliadas em gestantes e lactantes. Ou seja, não há evidências de que tomar a injeção possa causar prejuízos à saúde da gestante e do bebê. A vacinação em gestantes e lactantes com risco elevado de contração do coronavírus poderá ser realizada, mas a grávida deve saber que ainda não há um estudo comprovando a segurança da vacina durante a gestação. As mulheres que querem engravidar não devem adiar a vacina. Elas podem tomar a vacina e engravidar logo depois.
E, por fim, a alertamos que a visita ao ginecologista é uma das atitudes mais relevantes para a saúde da mulher. As consultas são importantes para a prevenção e o tratamento de doenças, para a identificação de problemas genitais, para a prescrição de métodos contraceptivos e para a melhora na qualidade de vida da mulher. Com exames de rotina, doenças como o câncer de útero podem ser evitadas ou tratadas, se forem identificadas precocemente.