OPINIÃO

A interminável pandemia

Na próxima quinta-feira, completa-se um ano da declaração do diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adahnom, de que o estado de contaminação da covid-19 era pandêmico, ou seja, o vírus estava sendo disseminado de forma rápida, geograficamente. Deixava de ser um problema de alguns países, para ser uma questão do planeta inteiro.

Quase 365 dias depois, o mundo continua tentando combater o coronavírus, num período em que se esperava que a doença já estivesse, no mínimo, controlada, e, quem sabe, boa parte da população mundial, vacinada. Entretanto, o que acontece é oposto.

O Brasil atingiu, ontem, o maior índice de mortes, em 24 horas, desde o início da chegada da doença no país, com 1.910 vítimas da covid. Ao todo, são mais de 250 mil vidas ceifadas pelo coronavírus dos 10 milhões de casos diagnosticados só no país.

Até agora, cerca de 7 milhões de pessoas foram vacinadas em território brasileiro, o equivalente a 3,36% da população. O número é muito abaixo do necessário para a chamada imunização coletiva. Especialistas calculam ser necessário algo em torno de 70% da população vacinada para essa garantia. Sendo assim, o país precisa vacinar um número de 154 milhões de pessoas. Um caminho longo a ser percorrido.

A sensação que fica é de que, mesmo um ano depois da decretação da pandemia, poucas lições foram aprendidas. Ainda é necessário convencimento para que as pessoas entendam a importância do uso de máscaras e do álcool em gel e dos momentos de isolamento social. Até a vacinação tem sido alvo de contestação. O que dificulta ainda mais todo o panorama de combate à covid-19.

Analisando as diferentes pandemias, o historiador norte-americano John M. Barry, autor de A grande gripe, obra publicada originalmente em 1947 e que ganhou reedição em 2020, decretou um dos grandes problemas de uma crise como esta: “Pode-se dizer que os problemas gerados por uma pandemia são imensos, mas o maior deles está na relação entre os governos e a verdade. Parte dessa relação requer líderes políticos que entendam a verdade — e que consigam lidar com ela. [...] Um líder deve tornar real qualquer terror. Só assim as pessoas serão capazes de enfrentá-lo”.

Se os líderes não alertam, vale o aviso: a pandemia ainda não acabou. Infelizmente.