Opinião

Artigo: Eu tive covid

Durante a noite, uma explosão de dor no abdômen entrecortada com diarreia. Nunca tinha tido aquilo e quando passou, já ao amanhecer, atribuí a alguma bactéria que tivesse se alojado no queijo. Algumas noites seguintes, tive uma crise de dor na coluna, daquelas que analgésico não resolve

Como acontece sempre, eu entro em férias no começo de um novo ano. 2021 não foi diferente. Escolhi o litoral catarinense, onde tenho parentes que me acolhem bem. Como gosto de andar em bando, chamei dois sobrinhos-netos, Felipe e José Francisco. Eu viajei sozinha, eles apareceram cada um num dia. Por precaução, pedi a um médico amigo orientações de prevenção contra a peste.

Dois voos foram necessários para chegar à Floripa. O Aeroporto Viracopos (que já foi muito famoso na crônica política) em tempos de pandemia é uma zorra! Muita, muita gente. Não havia lugar nas lanchonetes. Caminhei bastante até encontrar uma mesa. Comi meu lanche (a empresa aérea oferece apenas um minienvelope de álcool) e corri até achar a outra asa do próximo embarque.

Imenso e confortável é o novo aeroporto de Florianópolis. Numa bela tarde de sol (depois se viu que foi talvez a única do mês), fui recebida pelos primos Waldez e Alicia, que há sete meses trocaram o endereço de Canoas (RS) por Garopaba (SC), antiga vila de pescadores, que deu origem a uma charmosa cidade de praia, hoje com quase 25 mil habitantes.

Nossa primeira investida foi numa cantina, comandada por um jovem chef italiano que acabara de inaugurar a casa, ainda sem vinho. Éramos três comensais e cada um escolheu um molho, o meu gorgonzola sobre fettuccinne.

Durante a noite, uma explosão de dor no abdômen entrecortada com diarreia. Nunca tinha tido aquilo e quando passou, já ao amanhecer, atribuí a alguma bactéria que tivesse se alojado no queijo. Algumas noites seguintes, tive uma crise de dor na coluna, daquelas que analgésico não resolve. Até que chegou Felipe e quatro dias mais tarde se queixou de indisposição. Conseguimos agendar um teste na Farmácia São João, no caminho do Rosa, e deu positivo! Na mesma segunda-feira, 25 de janeiro, nos submetemos todos à averiguação pela narina da presença do antígeno de covid-19 e, com exceção do festeiro José Francisco (merece um estudo à parte) testamos positivo. Pra mim, foi um choque, não tinha o que dizer, nem fazer.

Imediatamente informado, o pai de Felipe, que é coordenador da força-tarefa do MPDFT de fiscalização do protocolo de segurança contra covid-19, nos colocou em contato com a médica de Brasília Silvia Marchant Gomes, que nos orientou por áudio como proceder e tomar um monte de medicação. Nós quatro nos mantivemos isolados em casa. Felipe recebeu a visita dos pais, que se alojaram numa pousada próxima e acompanharam a evolução da doença até resgatar o filho.

Quando a doutora sentenciou “vocês não infectam mais ninguém; podem fazer o teste que acusará doença passada”, corremos outra vez à Panvel. E dito e feito: estávamos livre. No dia 3 de fevereiro, eu me despedia da bela e Santa Catarina, sem ter usufruído de suas praias, mas salvos, graças a Deus, todos nós quatro, no aguardo da vacina que, um dia virá para todos.