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Opinião: Vamos nos vacinar!

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), hoje existem vacinas disponíveis para combater pelo menos 20 doenças que salvam a vida de até 3 milhões de pessoas todos os anos

Isaac Roitman*
postado em 29/03/2021 06:02
 (crédito:  Ed Alves/CB/D.A Press        )
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press )

No século 18, Edward Jenner dedicou 20 anos de sua vida aos estudos sobre varíola. Em 1798 divulgou seu trabalho Um inquérito sobre causas e efeitos da vacina da varíola, mudando completamente a ideia de prevenção sobre doenças. A partir daí foram desenvolvidas vacinas para outras doenças infecciosas como poliomielite, tétano, coqueluche, sarampo, rubéola, febre amarela, difteria, hepatite, entre outras. As vacinas consistem na introdução do agente causador da doença (atenuado ou inativado) ou substâncias que esses agentes produzem para estimular a produção de anticorpos e células de memória. Por causa da produção de anticorpos e células de memória, a vacina garante que, quando o agente causador da doença infecte o corpo dessa pessoa, e ela já esteja preparada para responder de maneira rápida.

No Brasil, a vacina desenvolvida por Jenner foi introduzida pelo Marquês de Barbacena em 1804, sendo ele a primeira pessoa a ser vacinado. Cem anos depois (1904), o Rio de Janeiro apresentava um saneamento muito precário. Esse quadro desencadeava epidemias, inclusive a varíola. Oswaldo Cruz, sanitarista, pretendia resolver o problema pela Lei da Vacina Obrigatória. A falta de informação sobre a eficácia e segurança das vacinas causou grande descontentamento na população, que protestou nas ruas contra a vacinação obrigatória. Entre 10 a 16 de novembro de 1904, ocorreram confrontos entre a população e as forças da polícia e do Exército, causando a morte de 30 pessoas e 110 feridos. A lei foi revogada, e o episódio ficou conhecido como a “ Revolta da Vacina”.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), hoje existem vacinas disponíveis para combater pelo menos 20 doenças que salvam a vida de até 3 milhões de pessoas todos os anos. Quando somos vacinados, não estamos protegendo apenas a nós mesmos, mas também aqueles que estão ao nosso redor. A vacinação é segura, e os efeitos colaterais da vacina são geralmente menores e temporários, como dor no braço ou febre baixa. Efeitos colaterais mais graves são possíveis, mas extremamente raros.

O Brasil se destaca por seu programa público de imunização, que oferta todas as vacinas recomendadas pela OMS. Porém, nos últimos anos, os índices de cobertura vacinal ofertadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tem registrado queda. Infelizmente, observa-se a divulgação de informações incorretas, que são responsáveis pelo aumento de pessoas que não acreditam na eficácia ou temem os efeitos das vacinas. Como consequência, algumas doenças que estavam erradicadas, acabam retornando.

Após um ano do início da pandemia da covid-19, temos uma calamidade com mais de 300 mil óbitos e o colapso de atendimento médico. Quase 10 vacinas já estão sendo utilizadas no planeta e que foram desenvolvidas por cientistas em tempo recorde. Existem centenas que estão sendo desenvolvidas, inclusive no Brasil. Infelizmente, as falsas informações cresceram. Podemos citar algumas: “as vacinas causam autismo”; as vacinas provocam uma série de colaterais perigosos”; “se uma pessoa apresenta uma vida saudável, não é necessário vacinar”; mulheres grávidas não devem ser vacinadas”; a vacina pode alterar o DNA”; “a vacina da covid-19 contém chips implantados para controle populacional”. Outras pérolas relacionadas com a covid-19 podem ainda ser mencionadas. Que a vacina contra a gripe aumenta a chance de contaminação pelo coronavírus. Também não é verdade que máscaras doadas pela China ao Brasil foram propositalmente infectadas. Assim como também não procede a informação de que médicos tailandeses conseguem curar a covid em 48 horas. Beber água a cada 15 minutos, chá de bicarbonato com limão, café, erva-doce, gargarejo com vinagre, alho fervido e água tônica não eliminam a doença do organismo. Tomar uísque com mel, infelizmente, também não.

É fundamental se vacinar quando chegar a sua vez e não se esquecer de que, tendo em vista o número ainda limitado de vacinas no mundo, será necessário continuar com as medidas preventivas, evitando que o vírus se espalhe e protegendo, dessa forma, a si e aos outros. Lembremos o pensamento de Friedrich Nietzche: “as convicções são inimigos da verdade bem mais perigosos que a mentira”. Vacinar não é perigoso. Vamos nos vacinar.

*Isaac Roitman, professor emérito da UnB, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e membro do Movimento 2022-2030 o Brasil e o Mundo que queremos

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