Por Gabriela Tannus — Economista da saúde na AxiaBio Life Sciences, a convite da Bayer
A jornada de quem convive com a hemofilia A passou por uma importante transformação ao longo dos últimos 60 anos. Partindo de um cenário em que as pessoas com a condição nem sequer chegavam à vida adulta, cerca de 20 anos para cá elas passaram a ter uma outra perspectiva de vida com a chegada da profilaxia, ou seja, atuação preventiva de episódios hemorrágicos, com o uso dos chamados fatores de coagulação.
Desde então, o Brasil é referência no atendimento desses pacientes. Isso porque o país oferece acesso universal ao tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de uma rede de hemocentros em todo o país. Além disso, essas instituições proporcionam também um atendimento multidisciplinar tanto aos pacientes como para seus familiares, para que saibam como manejar o tratamento em casa.
Mas essa evolução não parou por aí: de 2010 para cá, a ciência encontrou alternativas novas e mais modernas para tratar esses pacientes. Um exemplo disso são fatores de coagulação de longa duração, que demandam menor quantidade de infusões, promovendo mais qualidade de vida, além de contribuir com a maior adesão ao tratamento. E o futuro, que está cada vez mais perto, promete mais: o tratamento com terapias gênicas tende a ser uma solução ainda melhor e mais personalizada para os pacientes, com infusões que poderão ocorrer a cada cinco anos.
Embora o programa ofereça uma condição de tratamento mais igualitário ao acesso às medicações por todo o país, muitas destas novas medicações ainda não são ofertadas pelo SUS. Será que isto acontece somente por causa dos custos associados à incorporação destes novos medicamentos?
Talvez seja pelo fato de o modelo de atendimento desses pacientes no país ter se tornado referência e se mostrado eficaz por preservar sua expectativa de vida. Talvez por receio de mexer em “time que está ganhando”. Mas podemos aliar a extensão da expectativa de vida já alcançada com a possibilidade de as pessoas com hemofilia viverem melhor.
Pode ser desafiador considerar novas alternativas em um mercado já muito bem estabelecido. Mas é importante levar em consideração que opções mais modernas de tratamentos podem trazer benefícios adicionais tanto aos pacientes e aos médicos, quanto ao sistema de saúde, que pode, inclusive, ganhar maiores índices de adesão ao tratamento com maior competitividade de preço entre os fabricantes.
Se o paciente se trata de forma mais espaçada, com a mesma eficácia e com níveis de fator que lhe deixarão mais protegidos, ele adquire mais autonomia e produtividade.
Já do ponto de vista do sistema público de saúde, a disponibilização de tratamentos novos e mais modernos para a hemofilia A potencialmente poderiam reduzir custos para o SUS, levando não só em consideração a menor quantidade de infusões, mas, também, a possibilidade de diminuição de internações e liberação de leitos, assistência ambulatorial, procedimentos e melhorias na logística do sistema.
Será que podemos ampliar a visão sobre o tratamento para a hemofilia A no país, e dar uma chance a novas alternativas? Só será possível avaliar o impacto e benefícios — tanto para a qualidade de vida do paciente, como para os cofres públicos — se tentarmos. E, sim, podemos tentar, mesmo que de forma parcial para avaliar gradativamente a evolução do cenário. O futuro já bate à porta, e os pacientes esperam opções de tratamento cada vez melhores, que lhe ofereçam maior proteção e eficiência no controle da doença, e possibilitem, assim, a melhora de sua qualidade de vida.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.