O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020, divulgado pelo IBGE na quarta-feira, é um retrato fiel dos estragos provocados pela pandemia de covid-19 no Brasil, que caminha para ultrapassar a sombria marca de 2 mil mortes diárias. Ao tomar conhecimento dos números negativos da economia, o presidente da República, Jair Bolsonaro, minimizou o tombo, lembrou que havia uma expectativa de queda muito maior. “O que eu posso falar para vocês é que se esperava que a gente ia cair 10%, parece que caímos 4%. É um dos países que menos caiu no mundo todo, então, tem esse lado positivo”, disse. Segundo ele, “o que fez a economia se movimentar, em parte, foi o auxílio emergencial”.
A fala do presidente sobre o tema — que ele mesmo já admitiu muitas vezes que não domina — tem acertos e equívocos. Realmente, a expectativa era de que o recuo do PIB seria maior. Economistas ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus chegaram a apontar uma retração de quase 7%. O próprio Ministério da Economia estimava tombo de 4,5%.
O desempenho foi, de fato, menos ruim do que o registrado por países vizinhos, como Argentina e Colômbia, e alguns europeus, como Alemanha e Espanha. Mas não será minimizando o resultado — e aí está o equívoco —, dizendo que o PIB brasileiro foi um dos que menos caíram, que Bolsonaro pode dar a sua contribuição para resolver os problemas mais urgentes do país – e nem essa constatação serve de alento aos brasileiros que vivem, há mais de um ano, em meio a um tsunami.
A economia brasileira segue cambaleante, e a tendência é de dificuldades ainda maiores para recuperação se o governo federal não tomar as rédeas do que realmente importa neste momento: o combate à pandemia. Enquanto as cidades do país estiverem com seus hospitais superlotados, somando dezenas de milhares de doentes todos os dias e batendo recordes de mortes, não há economia que avance.
E, para mudar esse cenário, como reconheceu recentemente o ministro Paulo Guedes, só existe um caminho: a vacinação em massa. Todos os esforços devem ser empreendidos no sentido de adquirir doses de vacinas suficientes para imunizar a população. Nesse sentido, ainda que tardia, a decisão do Ministério da Saúde, de comprar as vacinas dos laboratórios Pfizer e Janssen, pode ser vista como uma bem-vinda mudança de atitude do governo, depois de todos os erros e omissões ao longo da pandemia. Que outros contratos sejam assinados para a compra de mais imunizantes.
A chegada das novas vacinas deve ser acompanhada de um esclarecimento oficial do governo aos cidadãos sobre os benefícios da imunização. As doses aplicadas têm se mostrado eficazes para redução do número de óbitos e de internações. É o que estudos comprovam que vem ocorrendo nas últimas semanas no Reino Unido, noxs EUA e também em algumas cidades brasileiras. Salvar vidas e recuperar as finanças não são ações excludentes. Mas dependem de um esforço ainda maior por parte das autoridades do país.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.