Com a lenta vacinação — tomara que outras cepas não cresçam — seria a hora de tentar tirar o país da recessão econômica. Salva-nos o agronegócio, pois somos o segundo maior exportador de carnes e grãos (os melhores: soja, milho e sorgo). Mas a maldita inflação, essa megera que conhecemos de sobra, volta a insinuar-se por vários motivos: aumentos no preço do barril de petróleo, dólar sobrevalorizado, queda da indústria e serviços no Brasil, má condução econômica por Guedes, que estranhamente é uma figura absentista, que recusa interferir no mercado como um todo (Escola de Chicago). Mas, como o nível da atividade é baixo e grande o desemprego, o consumo não pressiona e, portanto, é uma força contra inflacionária.
O epicentro da nova crise bolsonariana está no seu pendor, agora revelado, populista e nada liberal. É a Dilma de calças e quer controlar os preços públicos: petróleo, energia elétrica, fertilizantes agrícolas, “et caterva”, para agradar o povão e se reeleger, quebrando a promessa de acabar a reeleição (votei nele, por apresentar-se liberal na economia e na política, para saneá-las). Eu me iludi ou me iludiram mais uma vez!
Privatizações? Pois sim. Uma coisa é o discurso e outra, a realidade. Bolsonaro é igual a Costa e Silva e Médici e Geisel, os generais-presidentes eleitos indiretamente, com as baionetas apontadas para o lombo dos congressistas.
Se houver privatizações — é necessário que haja — será em parte do setor elétrico, sob pena de colapso, desde que o governo não fique segurando os preços, em função do custo-benefício e das condições do mercado, como é do nosso ideário liberal. O perigo é o viés estatizante. Para Bolsonaro, socialismo é ideologia (algo que sequer existe mais, depois que China e Rússia se converteram ao capitalismo). No entanto, na prática, ele é socialista. Não quer abrir mão das estatais. Tem gente cega que é bolsonarista (nos costumes e só).
Os analistas estão descrentes, também, com o controle da inflação. “Estamos mais preocupados do que a média do mercado com o cenário inflacionário”, diz o economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho, cuja projeção aponta para IPCA em 3,8% no fim deste ano, ligeiramente acima do centro da meta. “O que aprendemos com a inflação recente é que o processo está um pouco mais forte do que o esperado, e isso tem implicações relevantes para a política monetária”, afirma o economista, que projeta a Selic chegando a 4,5% no fim do ano.
O economista-chefe da JG, Fernando Rocha, defende que o início do ciclo de elevação de juros tenha início somente em maio para que o BC possa avaliar o desempenho da atividade neste início de ano. Ele, contudo, acredita que o encontro de março pode ser o escolhido para o começo do aperto monetário, a depender do cenário fiscal, por exemplo. De acordo com Rocha, o retorno do auxílio emergencial pode ser um dos fatores considerados pelo BC para elevar a Selic em março.
“De qualquer forma, o segundo auxílio será muito mais contido, o valor será menor... Tudo está bem nebuloso ainda. Ainda trabalho com quatro altas de 0,50 ponto na Selic a partir de maio”, afirma.
Cenário semelhante é defendido por André Loes, sócio e economista da Kairós Capital, que também vê o início das altas de juros em maio, com a Selic em 4% no fim do ano. Ele argumenta que o avanço dos preços das commodities tem sido um fator determinante para a pressão inflacionária, até mais do que a depreciação cambial, cujos efeitos ainda esbarram na ociosidade elevada da economia brasileira.
A intervenção estúpida do presidente na Petrobras, contudo, chocou o pessoal do mercado financeiro, cuja confiança no liberalismo do dito cujo sofreu uma evaporação bruta aqui e nos investidores estrangeiros. Ninguém mais sabe o que vai nos acontecer depois disso. Lira e Rodrigo Pacheco, apavorados, vão tentar a privatização da Eletrobras. A pergunta que os angustia é compreensível. Os leilões e concessões terão êxito? Diante do viés intervencionista de Bolsonaro na Petrobras, ter-se-á investidores dispostos a investir no setor elétrico?
Nos países democráticos, as regras estabelecidas são cumpridas à risca, daí a confiança no governo. Como Bolsonaro disse que ia mexer também nos preços da energia, o mercado entrou em polvorosa...
O despreparo do capitão é de impressionar. A intervenção na Petrobras foi um terremoto, mas o que mais está apavorando o mercado financeiro e o empresariado em geral é a difamação de Castelo Branco, nomeado pelo próprio Bolsonaro, nas redes sociais. Uma luz amarela intensa brilha nos corações e mentes dos seus apoiadores de feitio liberal. Fé e votos dependem dos atos do santo de devoção!