Figurar bem na foto das nações comprometidas com a defesa do meio ambiente torna-se, cada vez mais, pré-requisito para o fechamento de acordos com outros países e blocos comerciais e para a atração de investimentos externos. Território que abriga a maior floresta tropical do planeta, o Brasil precisa, urgentemente, de uma guinada na política de preservação de seus biomas. Afinal, tanto lá fora quanto internamente, a imagem que se consolida, hoje, é a de que o país – outrora vanguarda internacional nessa seara, a exemplo da conferência do clima Rio-92 – tem se tornado, ano após ano, cada vez mais negligente com a preservação de seus biomas.
Não à toa, ainda na campanha eleitoral americana, no ano passado, Joe Biden externou essa preocupação. Disse que a Floresta Amazônica no Brasil estava sendo destruída. “Mais gás carbônico é absorvido ali do que todo o carbono emitido pelos Estados Unidos. Eu tentarei ter a certeza de fazer com que os países ao redor do mundo levantem US$ 20 bilhões e digam (ao Brasil): ‘Aqui estão os US$ 20 bilhões, pare de devastar a floresta. Se não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas’”, disse o democrata, em meio a debate com Donald Trump.
Em janeiro, logo depois da chegada à Casa Branca, Biden voltou a deixar claro que – ao contrário do antecessor, o republicano Donald Trump – seu governo vai se empenhar na defesa de uma agenda global para o meio ambiente. Uma prova disso foi a convocação de uma cúpula climática para abril. Também anunciou uma série de medidas para promover a economia verde e para a redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa. Representante de Biden para questões ambientais, John Kerry, afirmou, durante o Fórum Econômico Mundial, que é preciso reforçar as ações adotadas pelos países até agora. “Esse é um caso de liderança multilateral. Ninguém pode fazer nada sozinho”, ressaltou.
Na relação bilateral com o Brasil, como era de se esperar, o democrata mudou o tom belicoso usado na campanha e tenta agora uma abordagem mais pragmática, baseada na diplomacia. Afinal, manter boas relações com o Brasil, maior economia da América do Sul, é estratégico para as ambições comerciais e políticas dos EUA na região. Não à toa, tanto Kerry quanto o embaixador americano no Brasil, Todd Chapman, entabularam conversas com o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, para tratar da preservação do meio ambiente. “O meu novo presidente, Biden, está enfatizando muito a importância da mudança climática. Nós queremos ser bons parceiros do Brasil nisso. Foi excelente a conversa e vamos continuar falando”, declarou, após o encontro com Mourão.
Além dos EUA, a política ambiental brasileira enfrenta resistências na União Europeia, o que dificulta as negociações para o fechamento do acordo com o Mercosul. Ainda que, em parte, os entraves possam ser atribuídos ao protecionismo de agricultores franceses, encabeçado por Macron, o Brasil sofre forte desgaste em razão do crescente desmatamento registrado nos últimos anos e da repercussão negativa de fatos como a declaração do ministro Salles, quando propôs que o país aproveitasse a pandemia para “passar a boiada”, com a mudança de regras ligadas à proteção ambiental.
Não à toa, presidentes dos principais bancos privados do país e grandes empresários brasileiros já manifestaram preocupação com a agenda ambiental do governo brasileiro. O temor se justifica: em meados do ano passado, nada menos que 230 fundos de investimento, que juntos administram cerca de US$ 20 trilhões, assinaram carta aberta em que se dizem consternados com a situação da Amazônia e sinalizam que não estão dispostos a fazer negócios com governos e empresas sem compromisso com a preservação do meio ambiente, com políticas sociais e de governança. Os sinais de que o Brasil precisa de uma nova postura vêm de todas as partes. E são claríssimos: a necessidade de uma mudança nessa política é pra já.