Opinião

A forminguinha, o canhão e o mestre

Em tempos de guerras ideológicas insanas e mentes amedrontadas por correntes irresponsáveis de fake news que se espalham nas redes sociais, heróis da Copa do Mundo de 1958 configuraram seus esquemas táticos, driblaram polêmicas e aderiram à vacina para atacar o inimigo invisível.

Foi tocante ver, na segunda-feira, Mário Jorge Lobo Zagallo comemorando mais um título: o de ter recebido a primeira dose da CoronaVac contra a covid-19. Aos 89 anos, o único tetracampeão mundial como jogador (1958 e 1962), técnico (1970) e coordenador (1994) recorreu à superstição para festejar o momento. Disse que “Zagallo vacina = 13 letras”.

Sim, ainda não temos convicção da eficácia dos imunizantes, porém, além da fé em Deus (no meu caso, pois respeito a sua religião), a vacina é o que temos nesse momento de pandemia do novo coronavírus. Daí o discurso consciente do Velho Lobo. “Chegou a minha idade, eu estou com 89 anos. Vou fazer o que muita gente ainda não fez, mas que todo mundo tem que fazer. Isso é bom para a saúde e, coletivamente, se todos fizerem, o índice de mortes vai baixar”.

Zagallo era o camisa 7 na lista dos inscritos na Copa da Suécia. Disputava posição com outro craque canhoto como ele: José Macia. Aos 85 anos, Pepe também levou, ontem, a primeira picada. O ídolo do Santos foi às redes sociais dar um conselho aos fãs. “Torçam em casa, não se reúnam em bares e evitem festas. A covid-19 é muito contagiosa”, recomendou em um vídeo.

Bicampeão mundial e segundo maior artilheiro do Santos, atrás somente do Rei Pelé, Pepe aproveitou para encorajar quem sofre de aicmofobia — como é chamado o medo de agulhas. “Foi tudo bem. Não doeu nada”, testemunhou o ponta-esquerda.

Evaristo de Macedo é outro exemplo da velha guarda. Ídolo do Flamengo, Barcelona e Real Madrid, o ex-atacante disputou as Eliminatórias para a Copa de 1958 e só não esteve na lista final de Vicente Feola porque estava distante do Brasil. Atuava no futebol espanhol à época. Aos 87 anos, o técnico do Bahia no bicampeonato brasileiro de 1988 deu o braço à agulha. “É importante continuarmos a nos proteger, cuidem-se! Abraços”, escreveu nas redes sociais.

Temos três exemplos de encorajamento. Zagallo virou a “formiguinha” da Copa de 1958 tão somente porque fez muito bem a parte dele na inédita conquista. Pepe é chamado de “Canhão da Vila Belmiro” devido ao chute potente de perna esquerda. Evaristo ganhou alcunha de “Mestre” na arte de marcar gols. O único a balançar a rede cinco vezes com a camisa da Seleção.

Há mais em comum entre a “formiguinha”, o “canhão” e o “mestre” do que a idade apta para a imunização. Zagallo, Pepe e Evaristo aprenderam a jogar coletivamente contra adversários visíveis e invisíveis. Que este seja o maior recado a quem ainda teme a vacina.

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