DESAPARECIDOS

Onde estão os meninos?

''Mas frases de efeito não resolvem. Ministra, por que não começam o trabalho buscando resgastar os três meninos de Belford Roxo, o sofrimento mais recente nesta chaga nacional? As famílias não perdem a esperança de encontrá-los vivos. Essa confiança deveria nortear, também, as autoridades públicas e impulsioná-las a agir. Para ontem''

Já se passaram 46 dias desde que Lucas Matheus, 8 anos; Alexandre, 10; e Fernando Henrique, 11, saíram de casa, em Belford Roxo (RJ), para jogar bola e desapareceram. São 46 dias de angústia e desespero das famílias. E nenhuma evolução na busca por eles. Imagino o quanto os parentes estão se sentido solitários na agonia. Não há uma mobilização nacional para a elucidação desse drama devastador. Nem de autoridade nem da sociedade.

Não há uma comoção geral. As próprias redes sociais poderiam ser um instrumento de cobrança, em massa, por avanços na investigação, mas, qual nada. Melhor perder tempo com futilidades. Três crianças desaparecidas, há quase dois meses, não sensibilizam. Afinal, são pretas e pobres.

Na segunda-feira, familiares dos meninos reuniram-se com representantes do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) e ouviram promessas de ajuda. Colaboração que, se de fato ocorrer, já começará bem tarde.

Outra promessa, feita pelo governo, é de enfrentamento do problema no país. Na terça-feira, o presidente assinou decreto que regulamenta a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas. Conforme informações do MMFDH, o texto determina a implementação do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas. O banco de dados — segundo a pasta — terá a cooperação técnica e operacional dos entes federados com o objetivo de dar suporte à Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas.

Haverá uma versão pública do cadastro, que poderá ser acessado pela internet. Nele, será possível encontrar informações como características físicas dos desaparecidos e fotos. Os dados sigilosos serão acessíveis somente a órgãos de segurança pública. O MMFDH e o Ministério da Justiça trabalharão em conjunto — pelo menos é o que diz o documento.

Na assinatura do decreto, a ministra Damares Alves fez uma declaração impactante: “Não vamos mais perder crianças no Brasil”. Mas frases de efeito não resolvem. Ministra, por que não começam o trabalho buscando resgastar os três meninos de Belford Roxo, o sofrimento mais recente nesta chaga nacional? As famílias não perdem a esperança de encontrá-los vivos. Essa confiança deveria nortear, também, as autoridades públicas e impulsioná-las a agir. Para ontem.