Não falta quem afirme que o Brasil é um país sem memória. Tendo a me juntar aos que comungam desta retórica. Tomando como exemplo a história da música popular brasileira, é fácil perceber o esquecimento a que são relegados muitos dos artistas que tanto contribuíram para o enriquecimento da manifestação cultural de maior popularidade no país. Às vezes, um deles é lembrado e, quando isso ocorre, nada mais justo do que ressaltar — até com veemência.
O Correio vem dando ênfase, por exemplo, ao projeto Zé Kéti - 100 Anos da Voz do Morro, que, desde o dia 10 último, tem ocupado o palco do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Trata-se de uma justíssima homenagem a um dos maiores compositores de samba de todos os tempos. Na série de shows, vem sendo realçada a obra de José Flores de Jesus, carioca do bairro de Inhaúma, que deixou um legado de nada menos que 200 músicas, das quais, pelo menos 20 clássicos.
Zé Kéti, o nome artístico, vem do apelido recebido na infância, por ser um menino que, quietinho, se fazia ouvinte das rodas de choro promovidas em casa pelo avô João Dionísio Santana, com a participação, por vezes, de mestres como Pixinguinha e Cândido das Neves. A carreira do sambista teve início em 1940, como integrante da ala de compositores da Portela. Tio Sam no samba foi o primeiro samba gravado, em disco pelo grupo Vocalistas Tropicais. Já Amor passageiro, na voz de Linda Batista — estrela da era de ouro do rádio — viria a ser o primeiro sucesso.
Mas o que tornou Zé Kéti conhecido nacionalmente foi A voz do morro, interpretada, originalmente, por Jorge Goulart e lançado em 1955. O samba fez parte também da trilha sonora de Rio Zona Norte, filme de Nelson Pereira dos Santos, tido como precursor do Cinema Novo.
Em 1962, Zé Keti criaria o grupo A Voz do Morro, no qual tinha a companhia de Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho e Anescarzinho do Salgueiro.
Depois de declínio na carreira, o compositor chegou a cair em esquecimento. Voltou a ser lembrado com homenagem perpetrada pela Portela e ao receber o Prêmio Shell, pelo conjunto da obra. Com dificuldades financeiras e amparado por familiares e amigos, morreu em 14 de novembro de 1999.
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