» MÁRCIA ABRAHÃO
Reitora da Universidade de Brasília (UnB)
Nós, brasilienses de nascimento ou de coração, costumamos dizer que o céu de Brasília é como o mar. Amplo, aberto em sua imensidão azul e, em boa parte do ano, bastante ensolarado. Com uma estação seca que vai de meados de abril a outubro, o que não nos falta na capital é radiação solar. Ainda assim, levantamento recente feito pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) mostra que o Distrito Federal está muito aquém de seu potencial. Ocupa a 20ª posição no ranking nacional de geração de energia solar.
Na Universidade de Brasília, temos procurado agir para mudar essa realidade. Desde 2017, passamos a investir na instalação de painéis fotovoltaicos. Em uma primeira rodada de investimentos, levamos as plantas solares para todos os campi da UnB. Planaltina, Gama, Ceilândia e o campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, já têm prédios com sistemas em funcionamento desde 2019. Em todos os casos, lugares que abrigam salas de aula.
Agora, estamos executando uma nova rodada de obras, desta vez em prédios onde predominam salas de professores, as chamadas Unidades de Ensino e Docência (UED), cuja arquitetura se repete em várias edificações da UnB. As obras estão sendo financiadas com recursos da arrecadação própria da universidade e de um projeto de eficiência energética da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC).
Até o final deste ano, quatro novas plantas vêm se somar às quatro existentes e a outras três que fazem parte de projetos das faculdades UnB Gama (FGA) e de Tecnologia (FT), por meio do Programa de Eficiência Energética (PEE) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em parceria com a Companhia Energética de Brasília (CEB). Chegaremos, assim, a 11 sistemas em operação. Com isso, os dados disponíveis atualmente apontam que a UnB será a universidade federal que mais produz energia renovável no país.
Os projetos estão sendo realizados pela Secretaria de Infraestrutura da UnB em parceria com professores e estudantes da FGA, que usam a necessidade institucional para a formação de futuros engenheiros e o desenvolvimento de pesquisas. Outros projetos estão nascendo, com foco no monitoramento e na avaliação de desempenho dos sistemas já instalados. Dessa forma, integramos as áreas administrativa e acadêmica, cada qual oferecendo sua expertise em prol de melhorias para a instituição.
Além dos investimentos em geração de energia limpa, a UnB vem dando outros passos significativos rumo à sustentabilidade. Em 2017, criamos um setor responsável pela coordenação de ações sustentáveis, transformado, dois anos depois, em Secretaria de Meio Ambiente (Sema/UnB). Tivemos nosso primeiro Plano de Logística Sustentável e, em uma primeira avaliação, cumprimos 73% das metas estabelecidas (ou 30 das 41 elencadas). O desempenho foi acima do esperado em 14 delas.
Entre as metas, estava a redução do consumo de resmas de papel em 8% e de toners e cartuchos em 45%. Chegamos, em 2019 (antes, portanto, da pandemia e da interrupção das atividades presenciais), a uma diminuição de 32,5% e 80% nesses dois itens, respectivamente. O consumo de copos descartáveis também caiu muito: 46,5% para os de 200ml e 48,7% para os de 50ml. A meta, para ambos, era de 6%.
A universidade conseguiu, ainda, adequar todas as compras e contratos de prestação de serviços às regras de sustentabilidade. Também regularizou passivos ambientais históricos, realizou reparos hidráulicos que diminuíram o consumo de água e passou a fazer a compostagem de 100% do material orgânico decorrente da poda de árvores.
Para os próximos anos, pretendemos seguir investindo em obras que melhorem a eficiência energética da instituição e perseguindo melhores indicadores de sustentabilidade. Queremos ver, cada vez mais, a comunidade acadêmica envolvida em projetos nessa área, pois já comprovamos que a mobilização e a articulação entre diferentes setores produzem ótimos resultados.
Investir em fontes de geração de energia limpa, na redução do consumo e na melhoria da gestão de resíduos é não apenas necessário, mas também estratégico para o futuro da sobrevivência da humanidade. Em um cenário de queda de arrecadação e, ao mesmo tempo, necessidade de melhoria da infraestrutura, as políticas públicas devem necessariamente contemplar aspectos de sustentabilidade.
Buscar formas menos predatórias de coexistência com a natureza torna-se urgente, até para que possamos evitar o aparecimento de doenças — como a covid-19, de origem ainda desconhecida e tão desafiadora para a nossa sociedade. Na UnB, trabalhamos para dar o exemplo. Nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão de excelência encontram uma sociedade cada vez mais solidária e comprometida com o futuro das novas gerações.
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