OPINIÃO

Sobre fraldas e máscaras

''Que a história o condene, devidamente, como o mais inepto e deselegante chefe de Estado brasileiro''

Vinícius de Moraes avisou: “Filhos, melhor não tê-los”. Talvez, a máxima do poetinha, entre outros motivos, tenha sido inspirada pelas excessivas despesas com fraldas descartáveis dos rebentos (se bem que nem sei se havia esse luxo no tempo dele). Se existe, realmente, o pecado original pode ser justificado pelo terrível passivo ambiental provocado pelo cômodo objeto plástico destinado a embalar os excrementos dos bebês. Imaginem o impacto ao meio ambiente de tantos descartes dessa natureza. Minhas avós, contemporâneas do escritor bossa-nova, não desfrutaram da regalia. Podem descansar com a consciência tranquila. Particularmete, senti um alívio danado — ao menos financeiro, pois a pegada ecológica mantém-se trágica — quando, após quase quatro anos (em dois ciclos distintos), vi o carrinho de compras do mercado livre do nefasto item. Felizmente, ouvi notícias de que uma certa moda sustentável traz o apetrecho de tecido de volta.

Ressaltando que a castidade e um devido planejamento familiar são as formas mais adequadas para evitar infortúnios com fraldas — que, evidentemente, devem ser objetos de atenção, também, dos nobres papais —, ouso uma comparação, aparentemente, absurda. Tão bom quanto se livrar dos itens descartáveis para uso dos bebês será a alforria em relação às máscaras, que, neste momento, são imprescindíveis para frear as infecções pelo novo coronavírus. Indispensável para salvar vidas e para reduzir a sacrificante carga de trabalho dos profissionais de saúde, na linha de frente desta guerra que provocou a morte de quase 220 mil brasileiros, a proteção facial passa longe de uma peça confortável para o vestuário, especialmente em um país tropical de elevadas temperaturas.

No entanto, ainda que o esforço coletivo precise continuar por mais algum tempo — as vacinas estão na praça, mas levará meses para que os resultados positivos, de fato, apareçam e mudem o cenário —, a máscara de muita gente caiu de forma vergonhosa antecipadamente. A começar pelo “líder supremo”, que, em vez de dar o exemplo e orientar a população para uma gestão menos traumática da crise, esforçou-se como pôde para aumentar o número de óbitos, provocando aglomerações, incentivando a desobediência ao necessário distanciamento social, contestando informações científicas, receitando medicamentos de eficácia duvidosa e, por fim, naufragando com a mais hedionda política diplomática praticada em séculos no país. Que a história o condene, devidamente, como o mais inepto e deselegante chefe de Estado brasileiro.