A democracia enfrenta grave crise com o surgimento de uma nova onda populista e de líderes autoritários em todo o mundo, nos últimos 10 anos, o que tem preocupado as organizações voltadas para a defesa do regime democrático em nível global. A queda da confiança da população nas instituições tradicionais e o aumento da polarização entre grupos antagônicos levam ao surgimento de políticos outsiders, que não têm compromisso com o sistema político convencional e tornam-se a “esperança” de setores da sociedade que se veem excluídos.
A realidade é que, atualmente, muitos cidadãos aceitam e promovem campanhas de descrédito e ataques às instituições democráticas. Os recentes episódios envolvendo o ainda presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a invasão do Capitólio por integrantes da extrema direita americana mostram que até a mais sólida democracia do Ocidente enfrenta séria crise e vê seu sistema político tradicional ser questionado. Não se pode relevar que o líder dos supremacistas brancos estadunidenses teve mais de 70 milhões de votos nas eleições de novembro.
Na Europa, berço da civilização ocidental, pode-se constatar que a democracia também está em crise em vários países. O sinal mais claro desse fenômeno é o ressurgimento de partidos políticos extremistas. Eles conquistam mais e mais simpatizantes, a cada eleição, e colocam em risco a unidade da União Europeia (UE), sonho construído pelos democratas, após o término da Segunda Guerra Mundial, para que o continente nunca mais passassem pelo horror do conflito que deixou milhões de mortos.
Em solo europeu, os exemplos mais em evidência são os governos autoritários da Hungria e Polônia, que desafiam a coesão da UE. O governo húngaro, sob o comando de Viktor Orbán, interveio no Judiciário, perseguiu os opositores, a imprensa livre e investiu contra os direitos civis. A Polônia segue o mesmo caminho, desde que Jaroslaw Kazcynski, líder do partido de extrema direita Lei e Justiça (PiS), chegou ao poder há seis anos.
Nas Américas, o novo presidente Joe Biden tem o desafio de unificar o país depois de as instituições democráticas terem sido atacadas. O México testemunha o presidente esquerdista Andrés Manuel López Obrador abusar do populismo e atacar o Judiciário. No Brasil, radicais investiram contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.
O Oriente Médio continua sendo o berço de ditaduras conhecidas, mesmo depois do tsunami da Primavera Árabe. Na Ásia, o cenário continua o mesmo, com destaque para as ditaduras da China e Coreia do Norte. A África, apesar de problemas históricos, viu o avanço da democracia ano passado. Houve eleições em 13 países.
Analistas concordam que o sistema democrático vem sofrendo ataques nos últimos tempos, mas que também existe esperança. Os desafios para salvaguardar a democracia são concretos, mas muitos acreditam que, nos próximos 10 anos, pode haver uma reviravolta, com as populações de todo o planeta despertando para a importância do regime democrático na vida das pessoas e a segurança institucional proporcionada por esse sistema político.