Vacinação
Um leitor teve uma carta publicada (14/1), na qual escreve “...não consegui depreender nenhuma manifestação dele (Bolsonaro) que pudesse indicar uma ação dirigida ao não uso das vacinas...”. Ele reconhece, nessa afirmativa, a importância da orientação do líder — sejamos contra ou a favor dele, na comunicação social dos atos de seu governo. Tanto é assim que, pelo mundo afora, a Rainha Elizabeth, o primeiro-ministro Boris Johnson, Benjamim Netanyahu, Joe Biden, são alguns dos dirigentes que fazem questão de registrar sua adesão à vacinação contra a covid-19. No Brasil, é diferente. Bolsonaro faz questão de dizer que não se vacinará, que a vacina não será obrigatória, que quem tomar pode virar jacaré, que a vacina altera o sistema imunológico (sim, para o bem) e tudo isso num único discurso em 17/12/20, em Porto Seguro, na Bahia. Quase todos os dias o presidente fala contra a vacina, e até mesmo comemora que uma vacina tenha eficácia de “apenas” 50%, em vez de estimular que todos se vacinem e, assim, cada um possa contribuir para diminuir o impacto dessa pandemia, que não deve ser considerada “gripezinha”, pois acometeu 4% da população brasileira e é responsável por um quarto do total de mortes de 2020. Essa falta de percepção dos resultados deletérios de uma liderança desagregadora leva algumas pessoas a contribuírem tanto para a desinformação quanto para a redução das ações em benefício de toda a comunidade.
Sylvain Levy, Asa Norte
Inércia
Um país quebrado, arrasado por uma pandemia e com vacinas como objeto de uma política rasteira, desumana e letal. Mas o presidente quer armar a população, argumentando que isso é libertador. Centenas de pacientes com covid-19, em Manaus, têm a vida ameaçada por falta de oxigênio — vão morrer por falta de ar. As redes pública e privada de hospitais entram em colapso diante do avanço da epidemia. E o presidente ameaça uma insurreição pior do que a dos Estados Unidos, que aprovaram o impeachment contra o ignóbil Donald Trump, caso seja derrotado nas eleições do próximo ano, o que explica a sua obsessão por liberar o comércio de armas. Não bastam as mais de 200 mil mortes por covid-19. Ele quer mais óbitos para empilhar e ter palanques de cadáveres. Deputados e senadores, mergulhados numa disputa de poder pelo comando das duas casas do Congresso, pouco se importam com o que acontece fora do parlamento. Nada fazem para conter os descalabros bolsonaristas. A sociedade, combalida pelo desemprego, fome e doenças (não só covid) não tem forças para reagir e é triturada por um desgoverno que pouco se importa com a realidade caótica de 14 milhões de desempregados, e empurra o país para o mais profundo abismo.
Emiliano Gonzaga Lopez, Vicente Pires
Comportamento
A postura do presidente Jair Bolsonaro tem sido esdrúxula, desastrosa e insensata, desde o início da crise do novo coronavírus. Colocando-se em posição contrária ao que recomendam a OMS, os profissionais da saúde e a comunidade científica. O presidente da República assumiu um discurso irresponsável, que deixa em risco toda uma população. É importante, porém, destacar que esta postura do presidente não é uma novidade em seu comportamento. Mas, a se considerar o padrão de comportamento do presidente, que muda de discurso com uma facilidade tamanha, sobretudo sob a influência do chamado “Gabinete do Ódio”, formado por seus filhos e pelas alas mais radicais do governo. Devemos estar atentos e manter o ceticismo em relação a um convencimento real do presidente quanto à gravidade da crise atual. É provável que, ainda matizando o discurso, ele continuará instigando as críticas e fazendo o enfrentamento aos governadores e rodeios com a saúde da população. Diante disso, o mito (se ainda é?) provoca o seu afastamento dos 57,7 milhões de eleitores. Em suma, sua preocupação está direcionada exclusivamente para o cenário eleitoral de 2022.
Renato Mendes Prestes, Águas Clara
Falta ar
Chega às raias do surrealismo a notícia, publicada na maioria dos sites dos grande veículos de imprensa, que Manaus não tem oxigênio para atender os pacientes com covid-19. A informação circulou menos de 36 horas depois de o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ter visitado a capital amazonense e anunciado que colaboraria com a cidade em tudo que fosse necessário para o enfrentamento da crise causada pelo novo coronavírus. Será que as Forças Armadas não dispõem de aeronaves — as mesmas que deram “carona” para garimpeiros e predadores da Amazônia para Brasília — para levar tubos de oxigênio para Manaus? Será que os fabricantes não podem ter um mínimo de solidariedade com os manauaras? Vivemos tempos de horror e as autoridades estão imóveis, com raras exceções. O Congresso Nacional e o Judiciário estão inertes. Os líderes políticos (se é que temos ou tivemos algum) estão emudecidos. Os especialistas fazem alertas para ouvidos moucos. Tudo transcorre como se nada estivesse acontecendo. Tanto faz morrerem 200 mil, 300 mil ou 1 milhão. E daí? Todos morreremos um dia. Mas a passividade e a inoperância das autoridades diante de mortes evitáveis são revoltantes e só inflam a repulsa que temos pela politicagem mesquinha e rasteira que permeia os Poderes da República.
Giovanna Gouveia, Águas Claras