Para que serve um partido? Conceitualmente, é a organização de pessoas reunidas para exercer o poder político, em torno de uma causa ou de uma ideologia. Na prática, pelo menos no caso brasileiro, é o que menos importa. Como percebemos nos últimos grandes escândalos da política nacional, como o mensalão e os desvios de verba pública desvendados pela Operação Lava-Jato, não passam de grupos formados para defender interesses privados dos que ocupam cargos diretivos nas legendas.
Em meio à pandemia do novo coronavírus, que provocou efeitos devastadores na economia e no sistema público de saúde de estados e municípios, era de se esperar que os partidos estivessem mais preocupados com os interesses da população. Mas o que temos visto em exemplos recentes é justamente o contrário. As discussões fisiológicas seguem em primeiro plano.
Veja bem a crise em andamento no Banco do Brasil desencadeada após o anúncio do PDV e do fechamento de mais de 100 agências em todo o país. Cortejados pelo presidente Jair Bolsonaro na disputa contra Rodrigo Maia pelo comando da Câmara, partidos do Centrão passaram a pressionar por mudanças no BB, de olho em cargos de diretoria, incluindo a própria presidência. O processo de reestruturação da maior instituição bancária da América Latina, com o corte de gastos em busca da eficiência, não está no radar das legendas. O importante é ocupar cada vez mais espaços no governo.
Outro exemplo recente da utilização dos partidos políticos em causas próprias é a ação que chegou ao Supremo há uma semana. O Solidariedade entrou com um pedido para anular a eleição do Vasco da Gama, um dos clubes de futebol mais populares do país. Logo o PT se apresentou como parte interessada na causa. No diretório petista no Rio de Janeiro e em legendas aliadas, há diversos filiados que participam da disputa eleitoral no Vasco. A partir de uma pressão enorme nas redes sociais, a direção nacional do PT desistiu de auxiliar o Solidariedade na ação no STF. Mas uma pergunta precisa ser feita: qual o interesse de um partido político em um clube de futebol? A resposta é simples: o benefício de poucos.
Tradicionalmente, os partidos políticos são as instituições menos confiáveis pela população, como mostra a série histórica de pesquisas do Ibope e do Datafolha dos últimos 20 anos. Nada é feito para mudar.