ARTIGO

A educação em 2021

''Por fim, vamos precisar mais do que nunca colocar em prática o regime de colaboração, de trabalhar em time, deixando de lado aquilo que, eventualmente, pode nos separar e olhando para o que nos une''

O ano de 2020 vai embora sem deixar saudades. Da noite para o dia, escolas fechadas em todo o mundo — mais de 1 bilhão de alunos sem aulas. Foi preciso oferecer aulas on-line, mas a grande maioria dos professores não estava preparada para isso. A pandemia revelou a grande desigualdade entre países ricos e pobres quanto ao acesso ao ensino remoto.

Em nosso país, muitos alunos ficaram sem estudar por falta de conectividade digital. Outros até que tinham, mas não conseguiram se adaptar. Por conta disso, muitos professores tiveram de se (re)inventar; alguns, inclusive, usando diferentes meios de locomoção, levaram as tarefas escolares até a casa de seus alunos. Apesar desse esforço, é difícil ainda mensurar o tamanho do prejuízo causado pela pandemia no aprendizado escolar. O certo, como já previu o Conselho Nacional de Educação (CNE) em seus pareceres, é que vamos precisar fazer de 2021 um ano em dois, do ponto de vista escolar, o que está sendo chamado de continuum curricular. Do ponto de vista educacional, para muitas redes de ensino o ano de 2020 ainda não acabou.

A pandemia mostrou que, daqui para a frente, não dá mais para deixar de lado o uso das novas tecnologias no processo de ensino e aprendizagem. Vai ser preciso mais do que nunca combinar aulas presenciais com aquelas mediadas por essas novas tecnologias — o chamado ensino híbrido. Vamos ter que preparar professores e materiais pedagógicos para esses novos tempos. Enfim, começamos a entender que o binômio internet e banda larga não é luxo, mas o caderno e a caneta do século XXI.

A esse cenário desafiador junta-se o fato de que, em 2021, temos novos secretários municipais de Educação — muitos dos quais até conhecedores da área, mas sem experiência na gestão pública. Não é hora de inventar a roda, mas de preservar o que está dando certo, de investir num planejamento seguro e ter foco na aprendizagem dos alunos. É fundamental, nesse início, fazer uma avaliação diagnóstica da aprendizagem escolar, do que foi aprendido e de quais os deficits trazidos para 2021. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) pode ser um instrumento importante para essa finalidade, enquanto bússola em termos das aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo de cada série escolar da Educação Básica.

Felizmente, cresce o consenso de que as escolas, guardados os cuidados sanitários e o controle epidemiológico local, são lugares seguros. Soma-se a isso o fato de que o país — com algum atraso, é bem verdade, em relação a outros — deve começar o plano de vacinação em fevereiro. Acontecendo isso, e estando sob controle a segunda onda da covid-19, com o apoio da sociedade e os cuidados higiênicos necessários, teremos sem transtornos o retorno às aulas presenciais.

Será também nesse cenário complexo e desafiador que vamos ter a realização da Prova Brasil, cujos resultados deverão subsidiar o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Outro elemento que compõe esse indicador é a taxa de aprovação com base no Censo Escolar de 2020. Mas como fará o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep) — órgão responsável pelo cálculo e pela divulgação do Ideb — para se inteirar de forma confiável dessa taxa, já que não tivemos aulas presenciais em 2020?

O Inep também planeja iniciar em 2021 o Enem seriado. Em artigo anterior, publicado neste mesmo jornal, eu tinha uma posição contrária a essa iniciativa. Contudo, hoje, minha opinião a esse respeito mudou, após ouvir os argumentos do presidente do Inep, Alexandre Lopes. De fato, a ideia socialmente é muito boa, pois parte das vagas para o acesso à universidade em 2024 será destinada aos jovens do ensino médio que estão vivendo esse período de pandemia.

O grande alento para 2021 está na implementação do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que não só trará mais recursos para a educação, mas será mais redistributivo e indutor de qualidade.

Por fim, vamos precisar mais do que nunca colocar em prática o regime de colaboração, de trabalhar em time, deixando de lado aquilo que, eventualmente, pode nos separar e olhando para o que nos une. Juntos, poderemos fazer mais e melhor pela educação de nossas crianças.



*Titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP – Ribeirão Preto