A batalha política do momento é a eleição para as presidências da Câmara e do Senado a realizar-se em 1º de fevereiro. As especulações e articulações para que os atuais ocupantes dos cargos pudessem se candidatar a mais um mandato foram “abatidas em pleno voo” pela correta decisão do STF, tomada no dia 6 de dezembro, impedindo tal manobra e abrindo-se caminho para uma disputa na qual o governo federal não tem poupado tinta da carga de sua caneta Bic.
Na Câmara, joga seu peso em prol do deputado Arthur Lira (PP-AL), cuja campanha foi lançada, oficialmente, em 9 de dezembro e já conta com o apoio de nove partidos — PL, PP, PSD, Solidariedade, Avante, PROS, Patriota e PSC, representando 191 parlamentares. Já no Senado, quem tem liderado a articulação em nome do Planalto é o atual presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP) que, se bem sucedido, deverá assumir um cargo relevante no ministério.
Nesse cenário as atenções se voltam, prioritariamente, para a Câmara onde Rodrigo Maia (DEM-RJ), impossibilitado de concorrer, viu-se obrigado a entrar em campo para buscar a formação de um bloco e de um nome que tivesse chances reais de vitória. Após muitas conversações, no dia 23 de dezembro foi lançada a candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) com o apoio de seis partidos: DEM, PSDB, MDB, PSL, Rede e Cidadania, representando 147 parlamentares.
Maia tem procurado caracterizar a candidatura do bloco como defensora da democracia e das liberdades, além de ser a única capaz de manter a independência do legislativo. Chegou inclusive a insinuar, em entrevistas e declarações, que, com a adesão de PSB, PDT, PC do B e PT, esse bloco poderia ser o embrião de uma frente política para disputar as eleições de 2022.
Acompanhando toda essa movimentação, só é possível ter uma certeza: vai sair vitorioso quem conseguir evitar o maior número de traições. E, nesse quesito, o chamado “baixo clero” joga um peso decisivo. O discurso de independência da Câmara é enfrentado com a oferta de benesses, tais como emendas e cargos no governo. Numa votação secreta, o escurinho da cabine é muito tentador.
Porém, quem quer que seja o vitorioso, quais serão os reflexos para 2022? O primeiro que salta aos olhos diz respeito ao andamento dos atuais e futuros pedidos de impeachment do presidente, em que a oposição acredita que Baleia Rossi abriria os caminhos e a situação aposta que Arthur Lira representaria uma barreira segura.
Considero que nenhuma das duas premissas é verdadeira. Nós já deveríamos ter aprendido com a história recente que o primeiro critério para o Congresso aprovar impedimento de presidentes está vinculado ao respectivo apoio popular. Collor e Dilma foram afastados quando seus índices de aprovação estavam baixíssimos. Até o momento, nada indica tal situação para Bolsonaro.
Outro reflexo seria quanto à agenda da Câmara, com o presidente colocando em votação temas relativos a costumes de interesse da base governista. É correto afirmar que uma eventual vitória de Lira cria condições mais favoráveis para isso, mas, também, é necessário reconhecer que não será, obrigatoriamente, um dado de realidade, até porque a disputa política no parlamento sempre sofre a influência da sociedade (vide a recente votação do Fundeb). E ainda há os temas econômicos, como reforma tributária e PEC emergencial, prioritários para votação qualquer que seja o futuro presidente da Câmara.
Diante desse cenário, reitero o que já venho afirmando há algum tempo: no jogo político para 2022, o campo da disputa será cada vez mais as redes sociais, sendo o parlamento uma peça a elas subordinada. É como nos grandes torneios de tênis, onde existem diversas quadras, mas os jogos principais são sempre disputados naquelas consideradas centrais.
Sempre é bom lembrar que as redes sociais são formadas por pessoas de carne e osso, que ali encontraram as condições propícias para exercerem seu protagonismo político sem a necessidade da intermediação de partidos e instituições.
Nesse sentido, o presidente Bolsonaro mantém o monopólio da iniciativa, mas não significa a garantia de sua reeleição, apesar do favoritismo apontado pelas pesquisas. Para fazer frente a ele, a oposição precisará adotar, desde já, duas atitudes. De um lado, construir uma mensagem afirmativa e radical em torno de suas crenças e valores, rompendo com a atual postura de reação ao que é pautado pelo presidente. De outro, parar de apostar na ideia de uma “frente ampla” e partir para viabilizar um nome competitivo na sociedade. Sem isso, a derrota é certa!