As dificuldades e impasses no combate à disseminação da covid-19 no território brasileiro, praticamente, monopolizaram as atenções em 2020. Infelizmente, o país se aproxima do número sombrio de 200 mil vidas ceifadas pelo vírus que ainda está longe, muito longe, de ser controlado. Mas, além da saúde, é importante que o Brasil também olhe com atenção para a questão ambiental.
A política implementada pelo Ministério do Meio Ambiente há dois anos tem sido alvo de severas e repetidas críticas não apenas por ambientalistas, mas por representantes de nações do chamado Primeiro Mundo, em especial da Europa. E os danos à imagem do país podem causar prejuízos irreparáveis às empresas brasileiras que mantêm negócios com essas nações e dependem da continuidade e do fortalecimento dessas parcerias para garantir a manutenção de milhares de empregos em nosso país.
A flexibilização das normas de proteção ambiental e de outras áreas regulamentadas por normas e portarias sem a necessidade do aval do Congresso, o esvaziamento de órgãos como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) — reconhecido internacionalmente como exemplo a ser seguido — já vem causando forte prejuízo à imagem do Brasil no exterior. Inclusive com a possibilidade real de os países da União Europeia (EU) não ratificarem o acordo de livre comércio com o Mercosul devido a errática política ambiental brasileira. O desmatamento e as queimadas alcançaram índices nunca registrados, o que torna a situação ainda mais preocupante.
Ambientalistas estimam que mais de 11 mil quilômetros quadrados de florestas foram destruídos de agosto de 2019 a julho de 2020, área 9,5% maior do que a perdida em igual período anterior. Os dados são do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), cujo corpo técnico foi questionado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro Ricardo Salles. O órgão foi contestado em sua fundamental atividade fiscalizatória. Os chamados termos de embargo, instrumentos mais eficazes para o controle do desmatamento, despencaram 60% no primeiro semestre do ano passado.
Inquestionável o aumento do desmatamento, das queimadas — no ano passado, o Pantanal ardeu por várias semanas, com prejuízos incalculáveis à fauna e flora —, da emissão de gases de efeito estufa. Diante dos fatos acima expostos, convém ao governo brasileiro, sem descuidar em nenhum momento do combate à covid-19, dedicar uma especial atenção ao zelo com um dos maiores patrimônios que um país pode ter: suas reservas naturais. Cuidar da Amazônia e do Pantanal, dois dos nossos maiores santuários ecológicos, é contribuir para a preservação do planeta. Para se ter um futuro menos sombrio, é preciso garantir recursos e a autonomia dos órgãos competentes.