» MARCELO NERI
Economista e diretor do FGV Social. Foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
Dou, aqui, a minha visão sobre a quarta versão do Atlas do Desenvolvimento Humano (ADH), lançada pelos Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ipea e Fundação João Pinheiro. Arranjo persistente de três instituições desde 1998, a iniciativa do ADH não é apenas conhecida, mas reconhecida pelo grande impacto exercido, comprovado pelas premiações nacionais e internacionais recebidas. A iniciativa soube aproveitar complementaridades institucionais e se reinventar. Em particular, esta versão traz uma mudança de patamar da plataforma.
Vertentes 2.0 — As principais inovações desta versão do ADH (https://atlasbrasil.org.br/) são o uso de registros administrativos, visualização de dados e conexões com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Agora, quais são as implicações deste novo paradigma?
Vetores Globais — O elemento comum ao ADH e aos ODS é a palavra desenvolvimento, direcionando políticas públicas. Ambas métricas estão alinhadas com o resto do mundo, tal como no lema “pensar global, agir local”. Os ODS são um norte neutro facilitando entendimentos de vários níveis de governo, ou numa mesma área geográfica, mas em períodos diferentes de mandatos. Um mundo sujeito a choques como a pandemia da covid-19, nos ilustra a comparação intuitiva de rankings, uma marca na análise do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Volume — Dados os princípios de territorialidade, multidimensionalidade da iniciativa num país amplo, diverso e desigual como o Brasil, a incorporação de registros administrativos aumenta o desafio pela quantidade e frequência de dados envolvidos. A visualização de dados permite lidar melhor com mais informações. Se, como diz o ditado, uma imagem vale mais do que mil palavras, aqui falamos de milhões de números e gráficos e, portanto, de bilhões de palavras.
Velocidade — O uso de registros administrativos acelerou o processo de medição de resultados. Na prática, transformou os registros administrativos e colocou os gestores de política “de cara para o gol”. Bases do atraso do Censo 2020 por conta da pandemia em acabaram permitindo o lançamento desta versão do ADH antes do tempo usual.
Variedade — Como o CadÚnico, a RAIS ou o Censo Escolar, por exemplo, nos colocam diante das pessoas reais com endereço físico seja domiciliar, profissional, seja escolar, com seus números de identificação e cartões, os registros administrativos vêm da política pública e são fundamentais insumos para reformatar suas práticas e fixar metas operacionais. O uso de indicadores baseados nos registros das políticas agiliza e enriquece o processo de gestão de políticas.
Desafios 3.0 — Quais seriam as direções futuras para o ADH?
Dados Digitais — O chamado Big Data pode revolucionar os indicadores sociais. Além de ser renovável fonte de dados, especialmente no mundo 5G, a internet permite diálogos interativos sobre o conteúdo da plataforma.
Desigualdade — Outra tendência é incorporar novas iniquidades. Por exemplo, seguir as influentes direções de Thomas Piketty e incorporar renda e riqueza dos muito ricos (Top Incomes) por meio do uso de dados do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF).
Desenvolvimento percebido — Captar e sintetizar as percepções da população sobre cada elemento do desenvolvimento tanto em termos de sua importância quanto o seu nível ou mudança parece promissora. A apresentação dos dados seguindo a linha da vida parece uma representação natural da vida dos brasileiros para os inúmeros indicadores. Mais especificamente, educação, renda e saúde nos componentes do IDH são relevantes em todas as fases da vida, mas, especialmente, na infância/juventude, fase adulta e velhice, respectivamente.
Em suma, o ADH permite a cada pessoa enxergar a sua realidade, transformar informação em autoconhecimento. Como disse Milton Santos: “O homem não vê o universo desde o universo, o homem vê o universo desde um lugar”. E não era apenas a geografia que ele parecia se referir. O novo ADH será particularmente útil para a população monitorar seus respectivos prefeitos em início de mandato.
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