ARTIGO

Covid-19 evidenciou o protagonismo do terceiro setor

''Hoje, na luta contra o tempo para cessar a covid-19 no mundo, exemplos como estes nos mostram como as organizações sociais têm se mostrado cada vez mais atentas para a realidade da sociedade, buscando adaptar-se a situações adversas''

Correio Braziliense
postado em 20/01/2021 06:00 / atualizado em 20/01/2021 08:44
 (crédito: Gomez)
(crédito: Gomez)

» RUY ALTENFELDER, Advogado, curador dos Prêmios da Fundação Bunge

 

As organizações da sociedade civil surgiram no Brasil por um conjunto de fatores, impulsionadas, sobretudo, por um movimento de democratização do país, em um cenário de regime autoritário. Com as migrações forçadas do campo para a cidade, a população, principalmente a mais pobre, organizou movimentos de luta por serviços e políticas públicas. Foi nesse período que surgiram diversas instituições filantrópicas, como os institutos e fundações financiadas com investimento privado, que promoviam ações sociais e serviços de interesse público. Isso se deu tanto pela cobrança por empresas mais responsáveis e socialmente engajadas, quanto pela necessidade da sociedade civil de se organizar para ter uma participação mais efetiva nos processos democráticos.

Olhando para o presente, especialmente em um contexto de pandemia, o mundo fundacional deteve — e ainda detém — um papel imprescindível nas ações de combate ou na mitigação de impactos da covid-19. Em termos de doações, de acordo com a fundação de pesquisas Candid, já são mais de 14 bilhões de dólares doados por pouco mais de mil indivíduos e grandes instituições em prol do combate ao vírus.

Inevitavelmente, para o Terceiro Setor, o ano foi ainda mais desafiador. Com a demanda por ajuda com pico sem igual, seu papel fez-se mais presente. Seja no fomento de doações, por meio de recursos próprios e articulando com suas empresas mantenedoras, seja na adaptação de suas atividades para atender às causas urgentes decorrentes da pandemia. As entidades que já se destacavam com programas e ações voltadas para a sociedade e as comunidades mais vulneráveis foram cruciais, principalmente por seu conhecimento e capilaridade nos territórios, que fez com que o apoio e doações chegassem na ponta.

Diante de toda a conjuntura, 2020 nos mostrou que as mobilizações de solidariedade são cada vez mais necessárias e que o senso aguçado de responsabilidade social é vital. E não poderia ser diferente no ambiente corporativo. Na Fundação Bunge, entidade social da Bunge, por exemplo, a força de mais de 700 voluntários corporativos tornou possível a realização de mais de 300 ações voltadas para mitigar os impactos gerados pelo isolamento social nas comunidades onde já atuavam. A distância, também foram as ações de incentivo à leitura, com lives com contadores de histórias e atividades dos mediadores de leitura do programa para crianças de escolas e entidades.

A frente de atuação voltada para o desenvolvimento das socioeconomias das comunidades também foi remodelada de forma on-line e identificou micro e pequenos empreendedores locais para compartilhar seus produtos e serviços com a população por meio de aplicativo de mensagens instantâneas e redes sociais. A entidade ainda estimulou a área de suprimentos da empresa a comprar mais de 60 mil máscaras de tecido de fornecedores locais, como cooperativas, pequenas confecções e grupos de mães.

Mas, o ano também foi de adiamentos, a exemplo do tradicional Prêmio Fundação Bunge, que, há 65 anos, homenageia ininterruptamente profissionais de diversas áreas do conhecimento, e teve que ser postergado para 2021.

Hoje, na luta contra o tempo para cessar a covid-19 no mundo, exemplos como estes nos mostram como as organizações sociais têm se mostrado cada vez mais atentas para a realidade da sociedade, buscando adaptar-se a situações adversas. E é neste contexto, em um ano em que o mundo enfrenta uma das maiores ameaças à saúde pública da história moderna, que o senso de urgência tem levado as instituições a fomentar ainda mais suas ações e promover novas iniciativas aos mais afetados, legitimando o seu papel na sociedade. Já dizia o aclamado filósofo francês Pierre Lecomte du Noüy: “Não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito da dignidade individual”.

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