As discussões sobre o retorno às aulas presenciais nas escolas seguem dividindo opiniões. Enquanto a sociedade tenta compreender qual o momento mais seguro e apropriado para a retomada, os embates entre diferentes atores políticos tornam ainda mais difícil chegar a um consenso. Os estados adotaram critérios próprios para determinar o estágio da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus e isso faz com que não haja um alinhamento nas informações. A consequência de todos esses acontecimentos é a prevalência da insegurança e sabemos que o aprender não se manifesta em um ambiente em que alunos, professores e a escola estão com medo e receio.
Justamente por isso, precisamos lembrar que escola não é hospital. Portanto, embora os cuidados sanitários sejam necessários, eles precisam ser pensados a partir da lógica do acolhimento, não apenas regras hospitalares de distanciamento e isolamento. Alunos e professores, que estão há meses sem se encontrar, vivendo diariamente a tensão do momento, ansiosos, alguns em luto pela perda de entes queridos, não poderão buscar o abraço amigo dos colegas. Não devemos criar um ambiente escolar ainda mais pavoroso que o cenário externo. Isso agravaria as tensões e a sensação de mal-estar seria perpetuada em um ambiente que deve proporcionar acolhimento e esperança.
Os desafios são enormes, sobretudo para os professores, que precisarão acolher os estudantes e as famílias, mas que também precisarão ser acolhidos por eles. Isso só será possível com protocolos claros adotados para, além de prover segurança sanitária, permitir a construção de um ambiente de aprendizagem e partilha. A partir disso, esse acolhimento deverá passar, necessariamente, pelo aspecto emocional. São meses de paralisação das aulas ou de aulas remotas, sem o convívio escolar e em meio a uma crise que espalhou medo e angústia. É hora de ouvir, ou melhor, escutar com empatia o que cada um tem para dizer. Os diferentes contextos ajudarão a entender quais caminhos seguir e como proporcionar práticas para lidar melhor com as preocupações e adversidades do dia a dia.
A privação do convívio escolar não representa apenas uma quebra no processo de ensino-aprendizagem, mas uma ruptura de relações. Reconstruir esse vínculo é, de certa maneira, se reconectar com o mundo e com si mesmo, na medida em que nossas interações são essenciais na construção da nossa identidade. Para isso, é muito importante promover ações de integração em que todos possam compartilhar experiências para se reconectarem a partir das situações vividas. Importante salientar que todos, em diferentes níveis, estamos passando por um momento desafiador e por conta disso, de certa forma, continuamos conectados.
Para nos adaptarmos a essa nova realidade duas habilidades emocionais serão fundamentais: resiliência e resolução de problemas. Colocar em prática nossa capacidade de mudar, de autoconhecimento, de não desistir e de enfrentar os contratempos optando pela alternativa positiva será a chave para estruturar novos caminhos a seguir, sejam eles no âmbito emocional ou até mesmo pedagógico. Entraremos em uma jornada de descoberta até entendermos o que funcionará e como e essa também será uma oportunidade de fazer diferente, de testar novas práticas e reinventar a forma de ensinar.
Nesse contexto, o desenvolvimento do socioemocional, já previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), terá ainda mais relevância, uma vez que essas habilidades não somente geram impacto na qualidade de vida do indivíduo como também desempenham papel fundamental no processo de aprendizagem. Somente com foco no desenvolvimento delas será possível resgatar a aprendizagem e diminuir as desigualdades de ensino no país.