Honestidade é dever e governar, um dom

Achei por bem repercutir a voz de uma mulher e juíza a ministra Maria Elizabeth Rocha em entrevista no Superior Tribunal Militar (o Judiciário militar em sua mais alta cúpula) que está a merecer divulgação. Perguntada a sua opinião, dela, sobre a presença maciça de militares no governo civil da nação respondeu: “É cômodo para o presidente escolher militares para compor o alto escalão, preenchendo lacunas que, politicamente, talvez ele não conseguisse manejar. São pessoas que nunca vão confrontá-lo, pois ele é o chefe supremo das Forças Armadas. Nunca vai existir um embate como o que houve com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, porque ao fim e ao cabo eles estão subordinados, como militares, ao presidente da República. Quando a política entra nos quartéis, a hierarquia e a disciplina sofrem abalos”.

De toda a sorte, apesar das bravatas sobre golpes políticos, os militares não se prestam a esse papel... Não ficou nisso foi mais fundo.

“As Forças Armadas são instituições nacionais de Estado, não de governo. É muito significativo que a Constituição brasileira, uma das mais extensas do mundo, com mais de 5 mil disposições, só utilize a palavra “pátria” uma vez, quando se refere às Forças Armadas. Então, quando militares da ativa servem a um governo, é comprometedor. Se fossem da reserva, eu ficaria menos incomodada. Um oficial da reserva continua sendo militar, mas não tem mais contato direto com os comandos ou com a tropa, nem poder de mando, nem acesso às armas da nação. Ele preserva uma influência, mas está fora das Forças Armadas. Então, no caso de virar ministro, não haveria a relação de submissão ao chefe das Forças Armadas, mas tão somente uma subordinação política ao presidente”. Note-se a lucidez do seu pensar.

“Eu louvo os esforços do ministro interino para conter a pandemia, uma tarefa quase impossível, sobretudo porque ele não tem formação na área médica ou conhecimentos de saúde pública. Ele faz o que pode dentro das circunstâncias. Mas não posso negar o quanto lamentei a saída do ministro Mandetta, um profissional que conhecia bem o seu ofício, que estava afinado com a equipe técnica do ministério, primava pela transparência e sabia sobre o complexo funcionamento do SUS [Sistema Único de Saúde]. Estou segura de que, se ele tivesse permanecido, o desfecho fúnebre que vivenciamos a cada dia seria diferente”.

Irretorquível, nos EUA é impensável temer das forças armadas golpes políticos tal o enraizamento da democracia. Pois bem, estou convicto e informado de que no Brasil é assim também, para desgosto de muita gente, dentro e fora do Poder. Militar golpista não há, pelo contrário.

Agora o plano nacional de vacinação: que exige recursos prévios e contratos assinados há pelo menos um mês de antecedência, além de logística rigorosa (trens, aviões, caminhões) sem falar no acondicionamento de ampolas, seringas, algodão, cartelas e marcação da segunda dose e outras providências.

O governo brasileiro e o general Pazuello têm plano dessa natureza? Mas nem pensar. É só falatório. A papelada pode estar rabiscada, mas o principal é o uso do tempo, e a efetivação real no espaço da nação da vacinação contra a covid.

Agora o Supremo foi no ponto. Havia exigido a apresentação de um plano, ante a inércia negacionista e estúpida desse governo que prefere ver os brasileiros morrerem do que minorar nossos sofrimentos, uma visão guerreira medieval.

Quando começa? Pontos, pessoal, com quais vacinas? Onde estão os contratos? Como sempre respostas prontas e supostamente firmes. Mentira pura, o governo tergiversa, mente, enrola. Fazer mesmo não faz. Os ministros estão irritados e os militares também. Logo o povo estará irado. Outros povos estão vacinando e São Paulo também.

É a pior governança que já vi. Palavras ao ar. E o pior é que convence muita gente desavisada, como ocorre com a nossa classe média, aturdida pelo desmantelamento dos sindicatos e movimentos sociais, por insidiosa e silenciosa atuação do Poder central e a apatia da sociedade em estado de desânimo, sem cultura política.

Seremos, sem dúvida, dos povos a ser vacinados, os mais tardios. Aliás se levarmos em conta as populações da China (1 bilhão e 350 milhões de seres humanos) da Índia (1 bilhão e 200 milhões) e do EUA (340 milhões de almas) nós, os brasileiros, com apenas 212 milhões de pessoas, somos o país mais infectado, com mais mortes per capita, mais mal assistido, menos medicado e menos vacinado da terra. É esse o maior feito desse governo comandado por um tenente paraquedista, que até o presente momento — me apontem — nada de relevante, em qualquer setor, fez pelo Brasil!

Parece que se compraz em polemizar, brigar, insultar, estimular as intolerâncias e jamais unir os contrários, integrar e liderar as forças vivas da nação. Entristece-me o silêncio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a apatia das ruas, a conformidade triste do povo sofredor!

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