ALDO PAVIANI
Geógrafo, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB)
Nos dois últimos meses de cada ano, os festejos de Natal e ano-novo ensejam ilusória retomada dos postos de trabalho, mesmo que a economia pareça amortecida pela letargia proporcionada pela pandemia. Há evidentes indícios de que a covid-19 está retomando sua rota de infecções cada vez mais ascendentes. As pessoas seguem se aglomerando e se infectando, desobedientes aos mandamentos de preservação da vida “fiquem em casa”, “usem máscara”, “lavem as mãos”, “usem álcool em gel”. As pessoas vão às compras, o que mantém empresas em operação; outras, fecharam as portas e, com isso, a taxa de desemprego aumentou. A desocupação só não é maior porque o comércio e alguns serviços aumentaram as ocupações de modo pontual, que são verdadeiras migalhas de emprego. Em breve, voltarão ao status quo ante, que poderá ser ainda mais grave em razão da parada geral durante a pandemia.
Não é difícil constatar que a economia está em compasso de espera, não somente neste ano, porque dezembro não pode ser aquilatado como “mês típico” e se revela intensificador de ocupações “sazonais”; passadas as festas, o desemprego se elevará, voltando aos patamares ascendentes dos últimos anos. Em 2021, ao que parece, haverá processo que terá continuidade até 2021, enquanto 2020 é considerado “ano perdido”. Breve a literatura explorará esse filão, que se desdobrará a partir das infecções ascendentes, todavia com eficiente recuperação de cerca de 95% dos infectados no Distrito Federal. As mortes, acima das quatro mil em toda a capital e em aumento, nos fazem pensar que poderiam ser número maior, não fossem os excelentes corpos médicos e de técnicos de saúde combatendo na linha de frente, até a exaustão.
Na área da saúde, prevê-se que os serviços públicos e privados, em clínicas e hospitais tendem a aumentar o emprego permanente porque não há sinais de que a covid-19 dará trégua no próximo ano. Os grandes jornais diários nos informam a respeito da chegada da “segunda onda” viral, algo que deve cientificar as autoridades de saúde pública, hospitais e clínicas para esse alerta. O aviso não tem o tom de alarma paranoico, mas recomenda a prudência dos que olham para além do dia a dia em direção do futuro de meses ou dos anos vindouros. Por isso, não se descarta a vacinação em massa, a começar pelos grupos de risco e indo em frente para que toda a população fique resguardada da infecção e possíveis óbitos em número superior ao atual. Assim que a vacina ou as vacinas estiverem disponíveis, após o devido aval da Anvisa, a população será vacinada.
Provavelmente, o número de técnicos e pessoas ligadas ao combate à covid-19 deverá ser aumentado, porque são milhões de pessoas a serem vacinadas em tempo restrito de dias ou semanas. Essa será uma das ocupações em migalhas porque não terá duração, sendo otimista. Não há como prever o tempo para manter-se em isolamento social, nem do “fiquem em casa”, uma vez que tudo está sob a “batuta” da maestrina covid-19; ela irá determinar o ritmo da música e durabilidade do “concerto”, tudo ainda imprevisível. Isso não quer dizer que as autoridades não estejam alertas para a necessidade de planejamento, de estarem atentos para as possíveis desigualdades sociais (e espaciais), que podem ocorrer ao longo do processo. Será esse meticuloso planejamento que irá assegurar a vitória desejável contra as infecções e mortes.
Na Europa, ante a segunda onda da covid-19, alguns países preparam o lockdown, em que se fecham estabelecimentos comerciais e de serviços e incrementam o isolamento social. França, Alemanha e Itália se mostram propensos ao fechamento de atividades não essenciais para frear a pandemia ou mantê-la em níveis toleráveis. Por isso, espera-se que essas ações ocasionem baixa atividade econômica e, por isso, aumento do desemprego. E, ao que parece, não haverá outra saída.
No Brasil, para contrabalançar o desemprego, o governo lançou mão do auxílio emergencial. Ele ajudou muitas famílias e aqueceu a economia, mas, como há deficit público de grandes proporções, o auxílio não poderá ser mantido nos meses subsequentes. Quer dizer, o orçamento é inelástico para oferecer um auxílio permanente, nem sequer de menor valor, pois há o risco de criar uma dependência desaconselhável pelas autoridades da economia/finanças públicas. tempo ainda não estimado, a economia estará contida e o desemprego, que chegou ao patamar dos 14 milhões de desocupados no Brasil, poderá se constituir em desafios que, por certo, terá influência no destino a ser alcançado com as eleições de 2022. A conferir.