Os filmes de faroeste produzidos nos estúdios de Hollywood nos faziam torcer por muitos mocinhos e abominar alguns vilões. Na maioria das vezes retratavam a saga da colonização e a expansão americana rumo ao Oeste.
O “General” George Armstrong Custer foi um desses personagens, e desde já o escalo no time dos vilões, cuja ambição o tocava até no desejo de ser presidente americano, embora de sua história despertou-me mais interesse o seu perfil de liderança.
Custer (1839-1876) estudou Academia Militar de West Point (equivalente aqui no Brasil à Academia Militar das Agulhas Negras), formando-se em último lugar de sua classe.
Não era nem aplicado nos estudos (limitado intelectualmente), nem muito rígido na observância das regras (indisciplinado).
Muito jovem, ainda como tenente, combateu na Guerra da Secessão comissionado temporariamente no posto de general de brigada. Ao término desse conflito, foi promovido a capitão e depois a tenente-coronel, assumindo o comando do lendário 7º Regimento de Cavalaria.
Antes da batalha do rio Little Bighorn, efeméride das Guerras Indígenas, batedores índios informaram ao “general cabelo comprido”, no comando de 647 (seiscentos e quarenta e sete) homens, que estavam diante de um enorme acampamento indígena.
Custer duvidou dos batedores. Como gente de uma sub-raça podia deduzir efetivos, baseando-se na profundidade das pegadas de cavalos? Ordenou o ataque. O vaidoso líder era obcecado, quase louco, por glória.
O 7º Regimento de Cavalaria atacou em várias direções, esperando provocar a dispersão do inimigo, levando-os a uma fuga precipitada. Nesse dia, o General Custer incorreu em diversos erros.
Acostumara-se aos índios entrarem em pânico diante de sua cavalaria. Imprudente, não valorizou as informações dos seus batedores. Deparou-se com cerca de 15.000 índios de diversas tribos, liderados por Touro Sentado e Cavalo Louco. Usavam armas tradicionais e até modernos rifles de repetição.
Se fosse previdente, Custer teria estudado melhor o terreno e aguardado reforços. Ao sofrerem um contra-ataque, duas de suas colunas debandaram.
Cercado numa pequena colina, pediu reforço a um subordinado, comandante de outro contingente, que recebeu a mensagem e a ignorou.
A batalha — uma carnificina — durou cerca de 20 minutos. Custer e seus comandados, incluindo seus dois irmãos, foram chacinados. Apenas um cavalo sobreviveu.
Muitos estudiosos na arte da guerra o culparam pelo massacre, afirmando que ele cobiçava receber todo o prestígio pela vitória que lhe parecia destino.
A história de sua morte é plena de ensinamentos e deve ser considerada por aqueles que se encontram em posições de mando. Dela depreende-se que:
— É impositivo planejar com segurança a hora do ataque;
— É preciso ouvir assessores experientes;
— Não se divide forças contra inimigos poderosos;
— É preciso cautela, mesmo que a ansiedade por fama fale mais alto;
— Há infiltrados que são mercenários e se vendem pelo melhor preço;
— Os inimigos não ficam inertes, fazem alianças e estudam os adversários e
— Os verdadeiros guias de uma nação chegam ao poder e passam à história por terem conduzido e superado com serenidade e determinação as crises e as catástrofes.
Arrematando, líderes que decidem de forma figadal podem fenecer, levando consigo seus subordinados e deixando apenas um trôpego cavalo para contar a história.
Oxalá esses ensinamentos ajudem os nossos Custers contemporâneos a reverem seus conceitos de liderança, incorporando no seu alforje de atributos de personalidade a humildade, a serenidade, a temperança, a maturidade, a empatia e, acima de tudo, a verdade.
Estamos ficando angustiados. Estamos chorando. Não queremos mais perdas. Nossa batalha de Little Bighorn é a da covid-19. É preciso mais ponderação e menos arrogância para enfrentá-la.
Índios ensandecidos, da temida e poderosa tribo coronavírus, desejam arrancar o nosso escalpo e demonstrar que erramos, mais uma vez, ao escolhermos esses atuais líderes.
Senhores políticos, provem que eles estão errados! É o presente de Natal que desejamos. Somos reféns de suas idiossincrasias.
Feliz Natal! E um Ano Novo com mais esperanças! Paz e bem!