Como diziam as mensagens que circularam na internet e nos grupos de WhatsApp, ninguém imaginava que daria banho em pacote de amendoim em 2020. E, decerto, nem de longe sonhava que teria que adentrar 2021 com esse mesmo hábito e toda população ainda interrompida em suas rotinas por uma pandemia que exige isolamento social. Mas, independentemente do sentimento de desconhecimento em relação ao futuro depositado na esperança de uma vacina que começa a se materializar, sempre que começa um novo ano, vem junto o desejo de agregar algo à nossa vida e ao trabalho. A chegada do novo, como diria Drummond, “por decreto de esperança”, traz uma sensação de que há um recomeço. Agora superdimensionado na certeza de que o mundo terá que encarar o chamado novo normal.
Ao contrário do que se imagina, essa expressão não surgiu com a covid-19. Após a crise financeira de 2008, ela começou a ser ventilada para descrever um novo cenário para as então economias emergentes, que passariam a apresentar um crescimento aquém do que vinha sendo visto. Hoje, falamos do novo normal para nos referir à mudança de hábitos praticada mundialmente por causa do controle da pandemia do novo coronavírus. Com o mundo tendo se resignado ao lar ao longo do ano, velhas práticas comuns tiveram de ser readequadas. Assim, muitos passaram a trabalhar e a estudar de casa, bem como ficaram mais dependentes de serviços de entrega. Aglomerações e reuniões em espaços fechados, como shoppings, bares e restaurantes, passaram a ser desaconselhadas, quando não proibidas.
Enquanto esse redesenho de rotina foi feito abruptamente, o novo normal não chegará da mesma forma. Pelo contrário, ele é um processo gradual, possivelmente transitório e que compreende idas e voltas. É impraticável que haja uma retomada total das atividades de uma hora para outra e é isso que tem se vivido em vários países europeus e asiáticos.
Quando o mesmo estágio de normalidade que vinha sendo experimentado até o início deste ano vai ser retomado ainda é alvo de intensos debates, mas as previsões indicam que isso só ocorrerá quando a vacina conseguir conter minimamente os altos índices de contágio da doença. Enquanto durar o clima de insegurança e incerteza, trazido pelo isolamento social, aglomerações e saídas constantes de casa seguirão sendo evitadas, ou pelo menos temidas.
Dadas as circunstâncias, era de se esperar que as redes nunca tivessem falado tanto sobre trabalhar de casa. Só na comunidade brasileira do Twitter, foram mais de 120 mil tuítes entre 7 de maio e 17 de junho que citavam o termo home office, enquanto, no mesmo período do último ano, foram apenas 7 mil. O recorte se deu bem no momento em que o Brasil ultrapassou a Itália em número de mortes pela doença e tornou-se o terceiro do mundo em número de óbitos em decorrência da covid-19. No Google, as buscas por itens de escritório, como escrivaninhas e cadeiras, mais do que dobraram em relação ao último ano, revelando um certo desejo de buscar maior conforto para a realização de atividades à distância.
Com o início do distanciamento social, as pessoas definiram novas metas e fizeram novas promessas para aproveitar o tempo em casa: aprender um novo idioma, realizar exercícios físicos todos os dias, botar em dia projetos atrasados, ler uma quantidade exorbitante de livros. O ócio nunca foi tão criativo na vida. Pelo menos em teoria pois, para muitos, passar 2020 a limpo pode trazer um sabor amargo de ótimas intenções não concretizadas. O perigo está no fato de que o excesso de autoexigência pode ter um efeito oposto ao esperado, funcionando como um gatilho para sentimentos negativos, como ansiedade, frustração e sensação de fracasso.
É preciso também levar em consideração que a falta do círculo social, o acúmulo das tarefas, a falta do convívio familiar intensificado, o medo de contrair a doença e a preocupação com familiares e amigos, além das dificuldades financeiras, podem atrapalhar a conquista dos novos objetivos. Buscar alternativas e identificar os obstáculos para poder realizar as adaptações necessárias são algumas atitudes fundamentais para criar um equilíbrio entre a produtividade, o lazer e o autocuidado.
Na neurociência, aprendemos que, para desenvolvermos um objetivo, temos que criar um plano de ação, ou seja, definir os comportamentos. Geralmente, a pessoa que cria um plano, mentaliza o que vai ganhar com isso, mentaliza nas coisas físicas. Mas um objetivo sem plano de ação se transforma em pura fantasia. A primeira coisa que temos que ter em mente é transformar o objetivo em comportamento, estabelecer o que precisamos fazer para alcançar aquele propósito.
O grande erro é que, muitas vezes, em vez de focarmos naquilo que queremos realizar, a gente deposita energia no que precisamos evitar. Um exemplo clássico é a pessoa que decide emagrecer. A todo momento ela pensa: “Meu Deus, não posso pensar em brigadeiro, não posso comer brigadeiro, brigadeiro engorda”. Só de escrever a palavra três vezes nesse artigo já me deu vontade de correr para a cozinha e fazer uma panela de sobremesa!
Outra dica importante é a pessoa refletir se esses novos comportamentos que ela se predispôs a assumir fazem parte do estilo de vida que ela realmente quer ter. Porque, se não fizerem, vai ser muito difícil se manter empenhada a longo prazo. Quebrar um mau hábito ou desenvolver um bom hábito pode ser um trabalho árduo, mas não é impossível. Aproveitemos o frisson do final do ano para transformarmos o entusiasmo do réveillon em responsabilidades para a vida. Jogue sua flor no mar, use amarelo para atrair riqueza, vermelho para trazer o amor, mas, acima de tudo, passe para si mesmo a procuração de realizar isso tudo.
*Mestre em programação neurolinguística e professor do MBA de Negociação e Vendas da PUCRS. Integra a equipe de elite da The Society of NLP. É condecorado como mestre em PNL pelo método Richard Bandler