Mais de 182 mil brasileiros foram levados pela covid-19. Deixaram um rastro de luto, de dor e de saudade. Um vazio que jamais será preenchido. Deixaram planos inconclusos, sonhos pela metade, lágrimas de viúvas e de órfãos. Impossível não se sensibilizar com a tristeza que se abateu sobre nosso Brasil. Discursos rasteiros, desprezo ante a gravidade da pandemia, deboche sobre a “gripezinha”, nenhuma expressão genuína de dor e de pesar por tantas mortes, trocas de ministros da Saúde em tempos de calamidade pública. Enquanto Reino Unido e Estados Unidos começam a vacinar suas populações, o governo do Brasil não tem um plano nacional de imunização com datas pré-estabelecidas. Também não coloca como prioridade a compra de doses da Coronavac. Tudo por motivos ideológicos e políticos (João Doria, governador de São Paulo e adversário do presidente, é entusiasta do imunizante).
Como a CoronaVac foi produzida pela China, a extrema-direita brasileira considera uma ofensa adquirir um imunizante de uma nação comunista. O próprio presidente chegou a culpar os chineses pela disseminação do coronavírus, eco do discurso xenofóbico de Donald Trump. Talvez as autoridades brasileiras não saibam, mas uma das nações mais hostilizadas pelo governo do Brasil avança a passos largos na pesquisa científica contra o coronavírus. Cuba produz, atualmente, pelo menos duas vacinas para imunizar o corpo humano contra a infecção do Sars-CoV-2. Também fabricou o antirretroviral Interferon alfa 2B e conseguiu curar mais de 1,5 mil infectados. É provável que isso não comova muitos dos engravatados tupiniquins, pois parcela importante do governo desqualifica a ciência.
A vacina contra o Sars-CoV-2 deveria ser prioridade de todos os líderes mundiais e um bem comum da humanidade. Não importa onde seja fabricada, por qual regime, de qual viés ideológico ou de qual posição política. Governantes que se preocupam com a saúde de seus cidadãos não deveriam colocar nada à frente da imunização contra o coronavírus. A inação ou a inércia pode creditar muitas das mortes pela covid-19 na conta dos mandatários. Não existe escolha quando se trata de vidas humanas. A história julgará o comportamento de alguns chefes de Estado e de governo. Vacina não é ideologia, assim como máscara não é manifestação política. São questões de vida ou morte. Negacionismo significa desprezo pela própria população.