A maestria que Gilberto Gil exibe, tirando sons das cordas do violão, lhe foi passada por Alcyvando Luz, multi-instrumentista, compositor e arranjador, nascido em Barreiras, no Oeste baiano, de quem me orgulho de ser conterrâneo. Em 1964, ele estava ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa e Maria Bethânia, no show Nós por exemplo, que inaugurou o Teatro Villa Velha, em Salvador. O histórico e seminal espetáculo foi o ponto de partida daqueles artistas, que viriam a se transformar em astros e estrelas da música popular brasileira.
Um dos raros integrantes do grupo a se manter na capital baiana foi Alcyvando. Ligado à Universidade Federal da Bahia, continuou dedicando-se à música, tocando piston na orquestra sinfônica da instituição e compondo, tendo como parceiro mais frequente Carlos Coqueijo. Os dois são autores de canções como Sou de Oxalá e O sim pelo não e Ave Maria dos Retirantes — esta, lançada por Fafá de Belém no LP Água, de 1978.
Mas foi É preciso perdoar que fez Alcivando Luz e Carlos Coqueijo reconhecidos nacional e internacionalmente. A canção classificou-se em quarto lugar na primeira edição do Festival Internacional da Canção, um ano antes, na interpretação do MPB4. O grupo vocal-instrumental carioca foi o primeiro a gravá-la. Outras gravações foram feitas por Caetano Veloso, em duo com a cantora caboverdiana Cesária Évora; e pelo cantor norte-americano Arto Lindsay, no disco Ambitions Lovers.
O responsável por transformar É preciso perdoar num clássico e sucesso no Brasil e no exterior foi João Gilberto ao gravá-la com Miúcha e Stam Getz no LP The best of two world, lançado nos Estados Unidos pela gravadora norte-americana Columbia, em 1976. A longa e profícua parceria de Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo prosseguiu até 1988, ano da morte do letrista e jurista, que, naquela década, ocupou o cargo de ministro do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) e interagiu com a música em Brasília. Alcyvando faleceu em 1998, na capital baiana.