Nada tem sido mais alentador nos últimos dias do que ver as imagens de pessoas sendo vacinadas no Reino Unido e nos Estados Unidos. Depois de 10 meses de muita tristeza e desesperança, eis que surge uma chance real de o mundo pôr fim a mais grave crise sanitária em um século. Há um caminho real para se evitar que mais famílias sejam destroçadas pela perda de entes queridos. Somente no Brasil são quase 182 mil óbitos. Um horror.
Para que os brasileiros tenham acesso o mais rapidamente possível aos imunizantes, é preciso, contudo, que os interesses políticos sejam deixados de lado. Não há porque transformar um tema tão técnico, de saúde pública, em briga por poder. A cada dia de atraso no desejado processo de vacinação, mais e mais vidas são perdidas. A situação está tão dramática, que a maior parte dos estados brasileiros está chegando ao limite de atendimento nas redes públicas e privadas de hospitais.
Infelizmente, enquanto o mundo todo se preparou para a tão esperada notícia — de vacinas capazes de conter os estragos provocados pela covid-19 —, no Brasil, nada de concreto foi feito. A ponto de o Supremo Tribunal Federal (STF) dar um ultimato ao governo. Até esta quarta-feira, o Ministério da Saúde terá de apresentar um Plano Nacional de Imunização factível para conter a disseminação do novo coronavírus.
Como diz o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, é inaceitável que um assunto como a imunização dos brasileiros contra uma praga que destroçou a economia do mundo todo, elevou o desemprego e empurrou milhões de pessoas para a miséria tenha sido judicializado. A vacinação deve ser tratada como sempre foi, sem ideologia, negacionismo e fake news. Nenhum país do mundo conseguiu tanto destaque em processos de imunização que erradicaram várias doenças como o Brasil.
Ainda há tempo de a esperança prevalecer no Brasil. Para isso, basta que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se descole do embate político. Hoje, o órgão está emparedado por forças que não estão interessadas no bem-estar da população, mas, apenas, em viabilizar a eleição em 2022. A agência deve se pautar por decisões técnicas e não ser um braço dos interesses de quem quer que seja. De novo, estamos falando de proteção à vida.
Não é possível que os agentes públicos não se comovam com um total de mortes que tem oscilado entre 600 e 800 por dia. É como se dois ou três aviões caíssem diariamente no país. Nas nações em que os dirigentes têm juízo, a corrida pela vacina começou desde o início da pandemia. Bilhões de dólares foram investidos para que a ciência desse respostas rápidas a um vírus devastador. E as vacinas estão aí, sendo liberadas em tempo recorde.
Tomara que, nos próximos dias, os brasileiros possam sair às ruas, como fizeram os norte-americanos, para aplaudir os caminhões de distribuição dos imunizantes. Mais do que isso, que, depois de tanto sofrimento, todos possam retomar suas vidas. Não é pedir demais.